Inicio esta prosopopéia com um poema de minha lavra e autoria:
"Como pode o homem reclamar
Se dele pode nascer outro homem ?
Como pode-se reclamar
Da beleza da vida?
Como se pode negar a natureza
Que nos brinda cada dia
Com mais presentes nunca sonhados?"
Esta é a beleza da vida: o cheiro de mato, a neblina que vem descendo o morro em sua direção, o cheiro do gosto de uma fruta, o marulhar do vento nas folhas, a imponência das montanhas.
Sentir-se parte da criação, sentir-se parte daquelas rochas que solenemente te fitam, silenciosas, mudas, é um privilégio que poucos possuem.
A vida está cada vez mais apressada, o tempo, um conceito que os humanos criaram, arrasta consigo multidões de escravos que atrelados a dois ponteiros, vivem suas vidas girando ao passo de um mecanismo de relógio que faz tic-tac, tic-tac.
Mas é muito engraçado, pois o relógio não faz tic-tac, mas sempre tic-tic – mas tão bitolados estamos, que ouvimos o raio do tic-tac, como se ele fosse verdade...
Enquanto isso, a natureza segue seu lindo ritmo, impassível diante dos ponteirinhos que comandam os néscios humanos que se desligaram dos ciclos da vida...
Os dias do ano não têm a mesma duração durante o ano todo – o ano não tem exatamente 365 dias, mas o humano, no bater de seus tic-tacs, arrumou uma maneira de compensar e enfiou um dia a cada quatro anos.
E a vida, impassível, desabrocha, dá frutos, chove, relampeja, nasce, cresce, morre – e os humanos sempre preocupados com o fluxo do tempo se esquecem da beleza da vida...
É um privilégio fazer parte da criação – por poucos segundo poderíamos ou não existir, ou sermos outros seres completamente diferentes...
Mas somos o que somos – pensamos, logo existimos, e nossa razão de existir deveria ser observar o nosso mundo e pasmos, com lágrimas a nos toldar a visão, admirar as belezas que a natureza nos brinda.
O cheiro do mato depois de uma garoa é fantástico, os pássaros regozijam-se, trinam, chilreiam, mas não nos damos conta, porque estamos preocupados com o tic-tac da vida.
Que pena é desperdiçar o privilégio de admirar as criações da vida que desfilam sem cobrar diante de nossos olhos e que não pedem nada senão o nosso pasmo diante da beleza.
De uma simples formiga, até uma gigante árvore, tudo pode ser admirado, bastando termos tempo para isso – filosofar sobre a vida não nos faz menos responsáveis, au contraire, nos faz cada vez mais senscientes de que estar vivo em meio a tantas belezas é realmente um privilégio.
Nenhum comentário:
Postar um comentário