Other stuff ->

segunda-feira, 6 de outubro de 2025

A ÁRDUA SENDA MÍSTICA


MALKUT - O REINO


Em meio as brumas tempestuosas, avistava-se o castelo, que imponentemente se erguia tal como uma fortaleza por entre as folhagens da floresta.

Era uma terra cheia de tradição, onde não raro estórias de fadas e duendes se transformavam em histórias, contadas por anciãos que tinham como missão transmitir as lendas para o povo e fazer com que fossem perpetuadas.

Nesse ambiente vivia um pequeno mancebo que aspirava à evolução, após ter percebido que não só o mundo material imperava e que alguma coisa maior existia, e que esta coisa estava a seu alcance, bastando procurá-la.

Cresceu cercado de tais estórias, acreditando que aonde se ia, se via uma manifestação da Consciência Cósmica, desde uma pedra até uma planta ou animal.

Contemplava e meditava por entre os bosques do reino de seu senhor, reino aquele que era material, aspirando a um reino muito mais superior, num plano muito mais elevado, que ele próprio desconhecia.

Foi em meio a uma dessas meditações que lhe veio a imagem de um cavaleiro, com seu manto púrpura com uma cruz vermelha, cavalgando incessantemente atrás de um objetivo qualquer. Viu ele também a face angustiada do cavaleiro, como se ele soubesse que nunca terminaria sua busca, cavalgando incessantemente por intermináveis planícies.

Eis que então o cavaleiro de sua meditação saca sua espada - uma espada com o punho reto, mas com uma uma particularidade: sua lâmina era ondulada, tal como se fosse uma serpente - e desfere um golpe numa pedra ainda não trabalhada, lhe desbastando uma aresta.

Subitamente, nosso jovem mancebo vislumbra também um anjo, que guardava solenemente uma árvore, e mais uma vez vê a espada ondulada - sim, o anjo estava guardando o Paraíso após a expulsão do homem primevo.

Sua meditação retornou ao cavaleiro, que da meia volta em seu corcel e dispara nova cavalgada em direção a pedra, lhe desferindo novo golpe...

Subitamente, um ruído o faz retornar a realidade: era um garoto que brincava nas proximidades da árvore centenária sob a qual estava meditando.

Será que sua vida se resumiria a meditações?

Pensou em se tornar um asceta, mas logo viu que como poderia ele aprender e se desenvolver sem o convívio com outros de sua espécie ? Ainda não era a hora disso.

Quando já estava um pouco mais crescido, foi tomado de forte febre, febre esta que o deixou acamado durante vários dias.

Em meio aos torpores da febre, sentia ele uma presença que não podia explicar, e volta e meia as visões do cavaleiro angustiado e do anjo guardião retornavam, tornando-o cada vez mais confuso.

Após recuperar-se da febre, sentiu que seu corpo já não era mais o mesmo: algumas sensações que antes eram apenas adormecidas, manifestavam-se com força e vigor.

Tentou conversar com seus familiares a respeito, mas não lhe deram ouvidos, tentou meditar a respeito, mas cada vez que meditava, mais fortes e torturantes as sensações ficavam.

Longos anos se passaram nesta angustiante espera de alguma coisa desconhecida, mas que cada vez mais tinha ele certeza de que iria acontecer.

IESOD - FUNDAMENTO

Numa manhã sentia-se totalmente estranho - ao levantar-se de sua cama, sua testa parecia que queria saltar-lhe da fronte, era um formigamento que o deixava cada vez mais atordoado e sem compreender o que eram tais sensações.

Dizia-se que na floresta em algum lugar, havia um ermitão entendido em assuntos considerados estranhos, o que o fez logo pensar em ir vê-lo, para tentar entender aqueles mistérios.

Mas logo um problema assolou sua cabeça: como poder-se-ia encontrar um ermitão que ninguém sabia onde encontrar ?

Apesar da dúvida que o perseguia, ainda mesmo quando ajuntou seus pertences e renunciou a vida mansa que tinha, resolveu sair a procura do ermitão.

Longos meses se passaram: chuva, sol, vento, e nada se revelava naquela floresta que parecia não ter fim, ocultando sua verdadeira face a cada poente.

Para comer ele caçava, para dormir, simplesmente encostava-se a uma árvore e dormia, mas a ideia de ter-se tornado asceta lhe pareceu estupidamente clara depois de algum tempo, e ele decidiu voltar.

Num desses dias, recostado a uma árvore, começou a sentir um puxão violento logo abaixo de seu umbigo - já era de noite e ele estava fixamente observando uma fogueira que tinha aceso a fim de se esquentar.

A fogueira se encontrava a sua direita, e dela emanava um agradável cheiro de natureza, que sublimava-se em contato com o fogo - Como o fogo é mágico - pensou ele, e subitamente aquele puxão aumentou violentamente, levando-o a um pavor imenso, pois ele vislumbrou a sua esquerda um vulto escuro, muito mais alto do que ele, que o fez ficar aterrorizado. Sentia sua nuca eriçar-se e seus membros tremerem...

Cada vez mais o vulto se aproximava, até que ele sentindo um violento formigamento na sua testa, desmaiou.

Enquanto desmaiado, sonhou com uma serpente mordendo sua própria cauda, formando um círculo perfeito.

Acordou numa caverna recheada de símbolos estranhos e com um cheiro de algo sendo preparado no fogo, que o fez lembrar de sua fogueira, lá na floresta, e do terror que o dominou.

Assustado tentou se levantar, mas seu corpo estava todo atordoado, fazendo com que deitasse novamente, num estupor que lhe tolhia o raciocínio.

Teve a estranha lembrança da serpente do sonho e do círculo, concluindo que o símbolo representava sua busca, que nunca teria fim, e que ele rodaria como numa roda da vida, sempiternamente.

Parecia este o fundamento de todo aquele lugar - um lugar que mostrava a ele que nossa busca interior não tinha fim, e de que devíamos nos esforçar para continuarmos procurando, mesmo sem saber o quê, nem porque.

Seus pensamentos foram interrompidos bruscamente por um velho todo encarquilhado, que rindo de sua situação, enfureceu-o bastante, mas já que não podia se mexer, resolveu engolir toda aquela raiva, e esperar.

O velho lhe perguntou se queria um pouco de água, e nosso jovem mancebo anuiu - sim precisava de água, embora o velho lhe inspirasse desconfiança e até um pouco de repulsa, ainda mais pelo andrajoso aspecto que se descortinava aos seus olhos.

Foi aí que se assustou: o velho perguntou-lhe se seu aspecto deplorável o assustava - o jovem assentiu, o que fez o velho explodir em gargalhadas

- Achas tu que estás em melhor estado que o meu ? Porque tens repulsa de mim, se é a mim que viestes procurar ? - perguntou o velho - Esperava encontrar um ancião em longas túnicas bordadas a ouro ? É meu aspecto externo que buscas ou os mistérios que conheço?

Essas palavras atingiram-no com um soco: era ele ! O ermitão que viera procurar ! E o velho captou todos seus sentimentos com relação a ele !!!

Passaram-se vários dias até que o velho lhe revelou a maior verdade que ele inconscientemente já sabia: devia ele partir em busca de uma elevação espiritual, devia ele iluminar-se, procurar aprimorar-se, partir em busca da LUZ, e que nenhum ser humano poderia fazer isto por ele.

Antes do jovem partir, o ermitão lhe ensinou uma coisa: ao sentir-se fatigado devia o jovem abraçar um menir, na região haviam muitos deles - os menires eram colocados em pontos de alta energia, mas nunca devia ele abraçar da cintura para baixo - poderia ser prejudicial.

Se nenhum menir estivesse por perto, deveria o jovem abraçar uma arvore, só que a força seria muito menor.

O jovem quis saber se o vulto que ele avistara na floresta era o ermitão - Não, não era. - disse o velho - Era um dos meus aliados, que chamo para me auxiliar colocando um espelho dentro de um rio, esperando que apareça um ser de outra dimensão oferecendo-lhe uma passagem, como se fosse uma janela pela qual ele sairia de seu mundo.

Em troca pela passagem e visita a este mundo, os aliados podem realizar certos serviços para mim.

Você pode fazer isso - disse veemente - mas lembre-se que o aliado é uma força muito poderosa, e para sair pelo espelho você precisará de muita força espiritual - tome cuidado para após terminada a tarefa, colocar o espelho na água e dispensá-lo agradecendo-o, pois eles consomem muita energia de você. Seja cuidadoso !!!

Com as palavras do ermitão na cabeça partiu em busca do desconhecido, sabendo que nunca mais veria aquele que se tornara seu amigo e mestre.

HOD - ESPLENDOR

Novamente aquela sensação de formigamento assolava-o, e meditando sobre as palavras do velho, sentiu que era chegada a hora de retornar ao reino, sair daquela floresta assustadora e interminável.

Dias e dias passou ele caminhando, até que um dia, fatigado, encostou-se numa árvore para descansar.

Dormitou e em meio ao estupor do sono, teve outra visão - aquele círculo com o qual tinha sonhado, poderia protegê-lo de forças estranhas se quando descansasse, traçasse ele um círculo no solo à sua volta, mentalizando que era um círculo energético protetor.

Naquela noite, antes de dormir, traçou ele um círculo para se proteger, e passou uma noite inteira sem percalços, nem perturbação de espécie alguma, não tendo também sonhado com nada que o intrigasse.

Ao preparar-se para partir, ouviu um estrondoroso ruido, tal qual um trovão que sacudia a terra e balançava as árvores, e ao longe avistou diversos cavaleiros, todos como em seu sonho, mas trazendo espadas retas.

Os cavaleiros foram se aproximando, aproximando, até que podia ver-lhes precisamente - era isso ! Vou tornar-me cavaleiro - pensou ele, agitando freneticamente os braços para ser notado.

Os cavaleiros chegaram - como eram imponentes, fortes, fazendo sua testa formigar e sua barriga estremecer com os puxões que sentia em seu plexo.

Que segredos guardariam tais cavaleiros ? O velho lhe dissera que estes cavaleiros detinham muito conhecimento, e que para ter-se acesso a eles deveria se comprometer a nunca revelá-los, nem escrevê-los, após passar por provas assustadoras.

Pediu-lhes que o levassem com eles, desejava tornar-se cavaleiro, submeter-se-ia a todas as provas e juraria nunca nada revelar.

Tal era o esplendor de suas armaduras e as emanações de sentimentos bons que nosso rapaz sentia, que mesmo que se lhe fosse pedido para morrer, morreria feliz, em meio a todo sentimento esplendoroso.

Os cavaleiros ciosos dos pedidos revestidos de honestidade do rapaz, e após terem sentido que ele era também um ser já mais evoluído, anuíram em submetê-lo às provas para tornar-se cavaleiro, apesar de sua linhagem não ser de tradição cavaleiresca.

Mas os cavaleiros sabiam o que estavam fazendo...

NETZAH - A VITÓRIA

Levaram-no a uma caverna escura e disseram-no para meditar na escolha que estaria fazendo - vida árdua, árdua senda de desenvolvimento espiritual, árduas batalhas materiais e espirituais.

Pediram-no também que escrevesse um juramento moral, que prometeria nada revelar a ninguém de seus segredos, sob a pena de morte agonizante.

O jovem concordou, e no escuro tateando, achou uma pena e uma folha de papel, onde lavrou seu juramento, apenas iluminado por uma pequena réstia de luz que penetrava por uma fenda das rochas.

O tempo passou e o jovem começou a se impacientar, mas sabiamente não reclamou - tinha boa compleição e aguentaria muito tempo sem beber nem comer se fosse preciso, mas a impotência o fez movimentar-se dentro daquela cripta, onde esbarrou com um esqueleto num canto - a luz da lua incidia sobre o crânio, onde podia-se ler a palavra VITRIOL - cujo significado ele desconhecia. Apavorado recuou.

Ao amanhecer, a cripta já não parecia tão assustadora, e os cavaleiros o vieram buscar para continuação das provas.

Vendaram-lhe e perguntaram-lhe se acreditava em Deus - o jovem disse que acreditava sim, mas não num Deus como um velho barbudo colérico e aterrorizante, mas sim numa inteligência cósmica que contribuía para a continuação da obra e da geometria do universo.

Diante da resposta, decidiram continuar: levaram-lhe para beira de um abismo e o mandaram pular - se confiasse em Deus, ele o ajudaria.

Pontas de espadas pressionavam-lhe as costas e ele bravamente pulou, com o coração a mil e a testa ardendo de formigação.

Não era um abismo, e sim um queda de pouca altura, mas demonstrou ele confiança nos seus companheiros e coragem, pois estava vendado e não podia saber o tamanho da queda.

Após várias outras provas, sagraram-no Cavaleiro da Sagrada Ordem da Cruz, com golpes de espada em seus ombros, enquanto ele ajoelhado elevava seu coração rumo à infinita sabedoria divina.

Foi a vitória sobre as paixões humanas e sobre as provas que o fizeram continuar nessa senda árdua e trabalhosa.

Então os cavaleiros disseram-lhe uma palavra que deveria ele usar para se identificar, e uma palavra de contrassenha para responder à esta palavra se a ouvisse.

Disseram-lhe que ali estava, não somente para defender seu Rei, mas também para partir em busca de conhecimento e espiritualidade, que lhe seriam dados quando encontrasse o Santo Graal, o cálice onde foi colhido o sangue de Jesus na cruz.

Um quadrado desenhado no chão sugeria-lhe a estabilidade daquela aliança, que deveria honrar com seus companheiros cavaleiros, prometendo novamente que nunca revelaria os segredos que lhe foram confiados.

Seu aprendizado apenas começara a ser organizado, pois haveria ainda muitas vezes que se reuniria com estes cavaleiros a fim de instruir-se, antes que partisse em busca do Santo Graal.

TIPHERET - BELEZA

Depois de muito tempo, sentiu ele que já era hora de partir em busca do Graal pelo reino de seu senhor, e quem sabe até fora dele...

Montado em seu corcel, despediu-se de seus companheiros cavaleiros em uma última reunião secreta e partiu.

Partiu levando a esperança de se tornar cada vez mais evoluído e cada vez mais próximo ao Supremo Geômetra do Universo, buscando incessantemente a sabedoria e praticando sem restrições a caridade e fraternidade.

Cavalgava ele dia e noite, parando de vez em quando para dormir em alguma estalagem que lhe desse pouso, visto que não carregava consigo nenhum metal com que pudesse pagar algo.

Pouco a pouco voltaram-lhe as visões de coisas que ele não compreendia, visões de símbolos que ele ainda não era capaz de compreender.

Certo dia, teve de dormir ao relento, tendo como companhia apenas seu cavalo e as estrelas, quando despertou em meio a um sonho estranho e angustiante - cada vez mais ele se tornava consciente que aquilo era uma tarefa árdua a conquistar, e sempre meditava a respeito de como poderia ele achar o Santo Graal.

E se algum outro cavaleiro o achasse antes dele ? E se ele ficasse vagando eternamente sem encontrar esse vaso sagrado ?

Tais questões o intrigavam, mas não o impediam de continuar adiante com seu projeto, sua meta de vida.

Cavalgando uma noite enquanto fitava as estrelas, uma estrela lhe chamou a atenção: era uma estrela diferente das demais, e parecia crescer lentamente de maneira quase imperceptível, mas crescendo sempre.

Continuou cavalgando - era uma noite sem lua, mas a luz das estrelas iluminava perfeitamente seu caminho, até que se deu conta que aquela estrela estava grande demais.

Parou seu cavalo, mas permanecendo montado, continuou a fitar a estrela cor de fogo, que agora crescia de maneira assustadora: será que apenas ele a estava vendo ? Seria algum delírio de sua mente cansada e estranha ?

A estrela tomou o tamanho de uma nuvem, e ele pode vê-la claramente: era um pentagrama em chamas, que parecia avisar-lhe de que algo inesperado ainda estava por vir.

Apesar do tamanho dela ser assustador, virou seu corcel em sua direção e começou a cavalgar decidido, pensando que talvez a estrela lhe indicasse o caminho do Graal ou de algo importante.

A estrela cintilou e seu fogo pareceu se animar, para depois começar lentamente a se esvair, até que nada sobrou no firmamento, além das estrelas ordinárias.

Ao longe começou ele a perceber formas de uma antiga construção, e continuou a cavalgar, cada vez mais excitado com a ideia de encontrar algo diferente. Além disso, aquelas sensações estranhas se apoderavam dele novamente, o que o fez pensar que estava no caminho certo, no caminho da luz.

Chegou a uma espécie de templo, que parecia abandonado, mas que outrora deveria ter sido imponente.

Viu no chão colunas abatidas, e uma porta que dava acesso a uma câmara inferior.

Resolveu deixar seu cavalo pastar um pouco e adentrar aquela porta que se encontrava aberta, munido de uma tocha que acabara de acender batendo uma pedra em outra e inflamando um bocado de capim.

Nada viu na antessala, mas um objeto no fundo de um poco lhe chamou a atenção - era uma pedra com uma argola de ferro: puxando-a, deparou-se com outra câmara e no fundo desta, outra pedra com argola.

Ao final de nove câmaras, já quase no limite do tempo limitado a capacidade de sua tocha, vislumbrou um altar com uma placa de ouro sobre a qual estavam gravadas quatro letras inefáveis hebraicas.

Pegou a placa e tentou dizer o que estava escrito, mas quando começou a soletrar, uma lufada de ar vinda de fora lhe apagou a tocha. Colocou o triângulo em seu pescoço com as letras viradas para dentro, e resolveu não mais tentar lê-las.

Caminhou em direção a luz externa e acendendo novamente a tocha, retornou para dentro, onde encontrou outra porta, desta vez fechada: resolveu bater, e eis que responderam-lhe do mesmo modo que batera.

Forçando levemente a porta, deparou-se com o templo mais lindo que já vira: era uma beleza tão estonteante que ele desejou nunca mais sair dali, mas ninguém estava ali para recebê-lo.

Logo sua atenção foi presa pela figura de um quadrado, que continha um círculo em seu interior, pintados no chão onde estava pisando, sugerindo-lhe que o infinito era também estável naquele lugar.

Mas e quem respondera às suas batidas ?

Procurou incessantemente, mas ninguém encontrou - uma sensação de medo começou a dominar-lhe as entranhas, fazendo-o correr para o exterior novamente.

Aquela beleza ficaria para sempre guardada em sua memória, mas sentiu que não era seu lugar ali...

GEBURAH - A FORÇA

Continuou sua jornada, em busca do Graal, perscrutando em todos os recantos possíveis daquele reino, mas começou a se sentir sem forcas para continuar aquela jornada.

Lembrou do que o velho lhe dissera sobre abraçar um menir, e começou a procurar um que estivesse em um sitio de grande poder energético, para reabastece-lo.

Após cavalgar ate quase a exaustão de seu cavalo, encontrou um menir que devia ser da altura de dois homens, cravado no meio de uma clareira aberta em meio a floresta.

Estranho era que parecia que há muito tempo ninguém ia ali, mas o mato não crescia muito grande perto do menir, bastava apenas para tampar o solo evitando que as chuvas levassem a terra.

Desmontou de seu cavalo e caminhando ate o menir o abraçou, apenas da cintura para cima, como lhe recomendara o velho ermitão.

Sentiu a forca da energia emanada daquele local, ao mesmo tempo que sentia suas forcas se reabastecerem.

Era uma força milenar, há séculos que aquela pedra devia estar ali naquela posição, irradiando como uma antena sua energia para uma rede fluídica que poucos deviam conhece-la.

Começou a sentir-se estranho, mas queria recarregar-se ao máximo, por isso continuou abraçado a pedra.

De repente, sua visão começou a toldar-se e uma dor de cabeça insuportável abateu sob seu crânio, fazendo-o desmaiar.

Espirais multicores e serpentes mordendo a própria cauda rodopiavam em seu delírio, seguidos de outras imagens mais estranhas ainda.

Em meio ao seu estupor, vislumbrou ele uma arca de madeira, revestida de ouro, suspensa por argolas que tinhas bastões passados por elas para carrega-la, e escutou uma voz dizendo-lhe que aquela arca guardou a tradição, guardou a Lei, que havia também sumido.

Seus sonhos cada vez mais o intrigavam, e ele atônito, acordou todo empapado em suor, e com uma dor de cabeça terrível.

Parece que ele havia provado uma sobrecarga da forca telúrica, e que não havia resistido...

CHESED - MISERICÓRDIA

Resolveu dormir ali mesmo, visto que estava ainda cansado, mas tomou uma distancia segura do menir, e dormiu.

Acordou com um hálito terrível sobre seu rosto em meio a madrugada nebulosa e úmida do local.

Quase morreu de susto ao ver uma encarquilhada sibila fitando-o nos olhos. A velha tinha um esboço de sorriso na sua boca sem dentes, e estava muito deliciada com a visão daquele cavaleiro ali deitado, inerme, encolhido como se fosse uma criança.

Aproximou-se dele e disse que graças a sua misericórdia, ele ainda estava vivo, pois ele havia tomado uma sobrecarga energética tão grande que havia morrido, mas ela, uma feiticeira experiente, o trouxe de volta a vida.

Aproveitou ela para dizer-lhe que para se renovar e preciso morrer, morrer para certos valores e hábitos e nascer para outros que renovariam sua alma, fazendo com que mais e mais ele se tornasse mais parecido com a Luz que buscava.

Mas alertou-o de que a senda da ascensão espiritual nunca acabaria, e que ele sempre estaria procurando algo.

Como presente para o cavaleiro, deu-lhe um punhal de prata com o cabo de ouro, sussurrou-lhe a enigmática frase, também gravada no punhal - "Ordo ab Chao", e o fez prometer que usaria aquele punhal para afastar as paixões humanas de seu caminho.

Após ter dito isto, voltou-se para a escuridão da mata e desapareceu como apareceu, sem nenhum ruido.

Como aquele caminho era cheio de peripécias e promessas !

BINAH - INTELIGÊNCIA

Aquele acontecimento fez-lhe pensar no que a velha havia lhe dito. Será que morrera mesmo, ou seria apenas uma alegoria ?

Será que ele devia pensar em parar de vagar atras do cálice sagrado, ou deveria busca-lo continuamente ?

Será que alguém já o encontrou ?

Sentia-se impotente, sua inteligência não bastava para descobrir os augustos mistérios que envolviam sua vida.

Pensou em parar para meditar em algum local, mas ainda era muito cedo para parar, então começou a pensar e remoer assuntos em sua cabeça, enquanto cavalgava.

Em certo ponto deparou-se com um roseiral, e imaginou-se sendo uma rosa que desabrochava para a vida, cada vez mais consciente do mundo em que vivia.

Sentiu que era imperativo deter-se ali por um momento, e assim o fez, desmontando de seu fiel e incansável cavalo...

Em meio ao roseiral achou um pequeno espaço em que podia deitar-se, o sol ainda estava fraco e não o incomodaria.

Deitou-se com os pés juntos, mas não resistiu à tentação de abrir os braços e ficar na mesma posição em que estava a cruz de seu manto.

Nessa posição assim ficou, ate que num êxtase, começou a sentir seu peito expandir-se e explodir em amor para todo o universo, sentiu seu peito abrindo-se, desabrochando-se como uma rosa, exalando seu perfume para todo o mundo.

Seu perfume era o Amor...

Seu êxtase durou um bom tempo, ate que sentiu o sol queimar- lhe a face, o que o fez lentamente retornar a este mundo.

Mas o sentimento que sentia, ia muito além de sua inteligência, não precisava dela para explica-lo, podia apenas senti-lo, aquele amor que ate doía no peito, mas um amor excessivamente lindo e universal.

CHOCHMAH - A SABEDORIA

Após acordar daquele êxtase, deparou-se com uma mulher formosíssima que o fitava incessantemente, emanando um sentimento de paixão que o arrebatou.

Ainda no chão, o cavaleiro tentou organizar seus pensamentos, mas eles estavam toldados pela visão da bela criatura: seu vestido tinha uma sutil transparência, que atravessado pelos raios do sol, deixava entrever a forma do corpo da bela jovem.

"Você pode estar extasiado pela minha beleza - disse ela - mas não pode compreender a sabedoria que carrego. Todas as ciências do mundo conheço, mas não posso ter uma vida normal, pois não sou deste orbe. - ajuntou a jovem, visivelmente perturbada.

A vida e uma Escada Misteriosa que devemos subir para aperfeiçoarmos, não titubeando nessa ascensão. Como eu já subi os sete degraus do Amor a Deus, que são a Justiça, a Pureza, a Doçura, a Força, o Trabalho, a Paciência e a Prudência, você também devera exercitar estes valores, para depois tornar-se sábio nas Ciências dos homens, no qual você exercitara o Amor ao Próximo, descendo pelos outros sete degraus da Escada Misteriosa da vida, estudando a Astronomia, a Música, a Geometria, a Aritmética, a Logica, a Retorica e a Gramatica, praticando-as para servir o próximo e a Deus.

Só após retificar-se, poderá tornar-se um iluminado como eu, pois já exercitei-me em todas as quatorze virtudes que te falei.

Mas mesmo após praticares o bem, você deve sempre continuar buscando a perfeição, para que se torne um Grande Cavaleiro da Ordem e da Bondade."

Após esta narração, começaram irromper asas enormes das costas da jovem, e após as asas estarem completamente formadas, ela disse ao cavaleiro: "Vincere aut Mori" e alçando voo, alcançou uma grande águia negra de duas cabeças.

Juntamente com a águia, a belíssima jovem voou, voou, ate desaparecer na altura do firmamento.

KETHER - A CORÔA

Atordoado, nosso cavaleiro agora compreendeu que sua busca nunca teria fim, e que nunca ele alcançaria seu objetivo nem acharia o Graal.

Descobriu que o Graal era apenas uma alegoria, que significava que ele, cavaleiro, deveria receber com a alma aberta todos os ensinamentos e todas as lições que a vida proporcionar-lhe-ia.

Só assim ele transformar-se-ia em um Iluminado, tal qual a mulher lhe falara.

Mas já vivera tanto, já ate morrera e retornara da morte que não sabia ele o que ainda ele deveria procurar...

Lembrou-se da serpente que mordia sua própria cauda, lembrou-se ele do circulo interminável, e lembrou-se de todos os episódios de sua jornada ate aquele encontro com a jovem.

A coroação do seu trabalho seria entender que seu este não terminara - e isto ele ja havia compreendido.

Foi então que ao entardecer, viu uma águia branca, linda que voava em sua direção.

Só quando a águia estava bem perto dele, e que ele viu, aterrorizado, que esta águia também tinha duas cabeças. Lembrou-se da jovem e de sua sabedoria.

A visão da jovem era vivida em sua mente, ate que foi quebrada por uma voz ensurdecedora que a águia emitia pousada num galho próximo.

A águia branca bicéfala repetia uma frase, mas o cavaleiro não conseguia compreende-la.

Falava em Deus, e também falava em direito.

Subitamente, pareceu compreender a frase "Deus Meumque Jus", e quando repetiu-a a águia levantou voo e desapareceu...

Compreendera o cavaleiro que agora sim, agora e que sua busca fora coroada...

Fora coroada o inicio de sua busca interior, todos sempre seriam aprendizes, todos estariam sempre aprendendo alguma coisa, ate que o Grande Geômetra do Universo os chamasse para com ele habitar o Oriente Eterno...

Posto isto, nosso cavaleiro levantou-se e reiniciou sua cavalgada, não mais procurando o Graal, mas sim procurando sentir-se como o Graal.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Translate it!