Other stuff ->

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

As origens do Rito Escocês Antigo e Aceito, suas Cores.

Desde a criação da Grande Loja de Londres, em 1717, desenvolveram-se
na França dois ramos
distintos da maçonaria: um inglês, dependente da Grande Loja londrina,
e outro "escocês"...

A Maçonaria dos dias de hoje tem parte de sua história originada na Ordem dos
Templários ou Soberana Ordem dos Cavaleiros do Templo de Jerusalém ou Ordem da
Milícia do Templo, fundada em 1118, para a proteção da Terra Santa, no tempo das
Cruzadas.

A Ordem dos Templários era regida pelos estatutos idealizados por São
Bernardo, o abade de Clairvaux, sendo seu maior símbolo o Templo de Jerusalém,
como representação das obras perfeitas dedicadas a Deus. Os templários eram
monges guerreiros e construtores, instruídos por antigos mestres
cistercienses nas
tradições greco-romanas, e se empenhavam na construção de igrejas, fortalezas,
estradas e pontes.

O poder crescente da Ordem acabaria criando inimizades e
cobiças; o rei Felipe IV, o Belo, ávido de dinheiro, forjou uma queixa contra os
Templários e o Papa Bonifácio VIII, invejoso dos Cavaleiros do Templo, concordou
com sua tese e, aos 12 de maio de 1310, 54 cavaleiros foram queimados  "nas
fogueiras santas". Dois anos depois, "extinta" a Ordem, foram executados o
Grão-Mestre dos Templários, Jacques de Molay e o Grão-Prior, Guido da
Normandia.

(1) O avô de Felipe, o rei Luís, foi canonizado pelo mesmo papa Bonifácio,
como São Luís, sendo que este odiava os judeus, e os perseguiu
tenazmente durante
seu reinado, por volta de 1254.

(2)  Os Templários, todavia, não se extinguiram com
a extinção oficial da Ordem em 1312. Os que escaparam da "justiça" real e papal
agregaram-se às comunidades de ofício. A Ordem do Templo, após sua destruição
oficial, reconstituiu-se na forma de uma sociedade secreta internacional, cujos
Grãos-Mestres viveram ocultos até o século XVIII.

Os Templários deram origem ao Companheirismo ( Compagnonnage ), existente até
hoje. A necessidade de manter trabalhadores cristãos organizados, em regiões
distantes, subordinados a uma mesma filosofia, sob um regulamento chamado de
"Santo Dever", construtores de cidadelas fortificadas, segundo métodos
de trabalho
herdados da antigüidade, manteve em Paris dentro da área do Templo, durante 500
anos, o centro destes trabalhadores iniciados.

O estabelecimento Templário em Paris
ocupava nessa época cerca de um terço da cidade e fugia à jurisdição
real, e onde os
ofícios eram todos ofícios-francos, com os artesãos isentos do jugo
real e investidos
plenamente no direito de franquia. Ou seja, na época das Cruzadas, não existiam
cavaleiros maçons, mas sim, operários da construção, que
principalmente nas terras
do Oriente, eram reconhecidos como membros do Compagnonnage, instruídos pelos
Templários.(3)

O trabalho operário, liberal, organizado, se transmitia apenas a
aprendizes iniciados
que passavam por provas de lealdade e mantinham segredo sobre os conhecimentos
adquiridos, constituindo corporações de oficio, segundo cada especialização de
atividade, como canteiros, sapateiros, marceneiros, e outros, e os "magister
carpentarius", verdadeiros arquitetos que instruíam os demais operários. Com a
dissolução dos Templários e a evolução política medieval, estes
artífices organizados
e detentores dos segredos das corporações dispersaram-se pela Europa e pelo
Oriente, mantendo suas tradições e sua organização, incluindo um
sólido mecanismo
de comunicação incógnito e de transmissão de conhecimentos secretos. Estes
artesãos, agora unidos aos monges Beneditinos, dedicaram-se à
construção de todas
as grandes catedrais da Europa, onde cada canteiro de obras era acompanhado de
uma escola, uma creche e diversas " Lojas ", segundo cada
"especialidade artesanal"
de edificação e acabamento. A partir daí, começa a ser possível falar
em maçonaria
(maçonnerie em francês – alvenaria – trabalho com a massa de assentar tijolos ou
pedras; mason em inglês – pedreiro; masonry - alvenaria ) ainda
"operativa", devido
esta herança operária.(4)

No mundo político medieval, esta organização com tal capacidade de comunicação e
ainda mais sendo secreta, atraiu a atenção de membros da elite política, que na
época se confundia inteiramente com a elite da Igreja Católica. Estes
companheiros
de ofício já se identificavam por lenços coloridos, atados aos
chapéus, ao pescoço, à
lapela, ou aos bastões ou bengalas, sendo cada combinação de cores
própria de uma
profissão. (5)

Desta forma, a "maçonaria operativa" passou a "aceitar" a adesão de lideres
político/religiosos em seu meio, que passaram a ser reconhecidos como "maçons
aceitos" ou "especulativos", que assim se achavam abrigados e munidos de intensa
capacidade de divulgação bem como de absorção de idéias e informações. Nesta
época a maçonaria se disseminou e se organizou na Inglaterra, reunindo-se
primariamente em Estalagens, pois historicamente estas se ocupavam do apoio
logístico aos Companheiros, garantindo sua guarida e a troca de suas
"Vestimentas
Brancas". Além disso, usavam o átrio das Igrejas para suas cerimônias de caráter
mais esotérico.

Pode-se deduzir que a chamada " Maçonaria Operativa" já era dedicada a
atividades
especulativas, como as concepções religiosas e metafísicas, deixando
de ser usada a
terminologia operativa e especulativa em favor dos termos "Maçonaria de Ofício e
Maçonaria dos Aceitos", este último para designar a Franco-maçonaria,
a partir do
século XVI, quando passaram a ser aceitos elementos não ligados à arte
de construir,
originalmente os franco-maçons ou maçons-livres ( ou free-masons, em
inglês).[ (2)

Por esta época uma família real, a dos Stuarts, reinava alternadamente tanto na
Escócia como na Inglaterra, [(1) pág.17 e (2) pág.67], sendo esta
dinastia iniciada no
século XII e encerrada com a morte em 1649 do rei Carlos I, decapitado pelos
partidários de Oliver Cromwell, que usurpou o trono. Os Stuarts refugiaram-se na
França até 1661, quando Carlos II reentrou triunfalmente em Londres,
restabelecendo a dinastia Stuartista. O rei francês Luís XIV estabeleceu o asilo
político nesse período aos membros da família real e a inúmeros outros
membros da
nobreza escocesa e inglesa, que passaram a preparar a reação contra Cromwell.

Esses nobres, que passaram a ser chamados na Inglaterra de Jacobinos
ou Jacobitas,
com o intuito de se precaverem contra os elementos hostis à dinastia Stuartista,
abrigavam-se sob a capa das Lojas Maçônicas, sob cujo caráter secreto podiam sem
grandes riscos comunicar-se com seus partidários na Inglaterra e
tramar a queda do
puritanismo de Cromwell. Desta forma a maçonaria se estruturou na França durante
o exílio da família Stuart. Todavia esta dinastia foi novamente expulsa do trono
inglês, numa seqüência política que resultou na reforma imposta por
Henrique VIII,
com o rompimento com o Papa e a criação da Igreja Anglicana,
diretamente ligada à
casa real britânica. Esta divisão política e religiosa foi acompanhada
de uma divisão
na Maçonaria. As Lojas da Inglaterra, fortemente representadas na
cidade de York,
em 24 de junho de 1717, no solstício de verão europeu,  organizaram o primeiro
sistema obediencial, com a fundação, em Londres, do primeiro organismo
centralizador de diversas Lojas, tomando o título de Grande Loja,
reunindo quatro
Lojas londrinas. Este sistema, nascido no seio da sociedade monárquica
inglesa do
século XVIII, por influencia desta, tornava-se também autocrático, com o
Grão-Mestre ungido com todos os poderes monárquicos. [(3) pág. 112.]

A Grande Loja de Londres teve durante muito tempo uma discreta e limitada
influência, já que a maioria das lojas inglesas continuava a respeitar
as Antigas
Obrigações, permanecendo livres e não aceitando a inovação apresentada em
Londres, sob a égide da política religiosa anglicana. O centro da
resistência à Grande
Loja era a antiga Loja de York, que para ter igualdade de condições,
constituiu a
Grande Loja dos Maçons Aceitos, ou Grande Loja dos Antigos Maçons, se
contrapondo
aos "modernos" de Londres.

A divisão estendeu-se até 1813 quando a fusão das duas obediências
gerou a Grande
Loja Unida dos Antigos Franco-Maçons  da Inglaterra, que decidiu, em 1815,
trabalhar de acordo com o Rito dos Antigos, que eram acostumados ao titulo de
Maçons de York, e apenas nos três primeiros graus, admitindo-se um
quarto grau, do
Real Arco, na verdade como mera extensão do Mestrado. [(2), pág. 41] e (6)
O Rito de York, por outros motivos, é também identificado como Rito de Emulação.

Nesse mesmo século, a França iria passar por grandes transformações, provocadas
pelo liberalismo, que começara a crescer após a Reforma Religiosa,
atingindo o seu
auge na época da Revolução Francesa de 1789.

A implantação do regime que privilegiava o poder do povo – democracia – em
oposição à autocracia, iria proporcionar, por suas influencias, um
tipo diferente de
governo maçônico, com poderes moderadores do poder único do Gão-Mestre, como
na Republica, através de representantes das Lojas num poder Legislativo e com o
respaldo da lei, num poder Judiciário. Este sistema, por ser
diferente, adotou um
título diferente, tendo como seu organismo centralizador de vários
orientes ( cidades
ou vilas sedes de Lojas) um Grande Oriente. Desde então, as
Obediências Maçônicas
criadas sob a influência inglesa ( por exemplo o Estados Unidos da América)
formaram Grandes Lojas, enquanto que aquelas criadas sob a influencia da
Maçonaria francesa criaram Grandes Orientes. [(3), pág. 113]

Desde a criação da Grande Loja de Londres, em 1717, desenvolveram-se na França
dois ramos distintos da maçonaria: um inglês, dependente da Grande
Loja londrina, e
outro "escocês", livre do sistema obediencial, e portanto vivendo de
acordo com os
antigos preceitos, segundo os quais os Maçons tinham o direito de
constituir Lojas
Livres, procedimento que aos poucos foi mudado, com a generalização da
implantação do sistema obediencial. Estas lojas "escocesas" , todavia,
representavam
a esmagadora maioria.

Em 1771, das 154 Lojas de Paris, 322 da Província e outras 21 em Regimentos
Militares, não havia 10 que  tivessem recebido sua patente da Grande
Loja Inglesa.
Não se falava ainda em Rito Escocês, apenas se reafirmava a origem
Stuartista desta
corrente antigamente escocesa ou Jacobita. Isso só iria acontecer na
segunda metade
do século XVIII, com a criação dos Altos Graus, suma característica do
Escocesismo,
nascida do desejo de aristocratizar a ordem, não no sentido político
do termo, mas,
principalmente, como uma idéia de seleção. Essa transformação
iniciou-se em 1758,
com a criação dos 25 Graus (do chamado Rito de Héredom) e só seria plenamente
estabelecida em 1801, com a fundação, em Charleston, nos EUA, do Primeiro
Supremo Conselho do mundo, do chamado Rito Escocês Antigo e Aceito,
estabelecendo os definitivos 33 graus.

A maçonaria original, dos Stuarts, "escocesa", sempre usou várias
cores, nos diversos
graus, mas sempre predominou a vermelha, tanto devido a sua origem católica,
quanto à sua aristocratização, a partir de 1758. Na Antigüidade as cores purpura
(vermelho escuro) e carmesim (vermelho vivíssimo) eram sinais de
realeza e usadas
só pelos aristocratas e ricos, obtidas de pigmentos raros e caros, a
partir de cascas e
conchas de crustáceos, inicialmente, lembrando a importância econômica da
descoberta do Pau-Brasil, posteriormente, como fonte de pigmentos vermelhos.

Como exemplo, durante o martírio de Jesus, os soldados o recobriram com um manto
purpura, como zombaria, perante a afirmação de realeza por Ele proferida. Os
Césares romanos e seus senadores, usavam mantos cor de purpura, cunhando a
expressão "purpura imperial", para designar o cargo de Imperador. No Catolicismo
são várias as cores litúrgicas, e variam conforme as datas simbólicas;
todavia os
paramentos vermelhos são usado nos dias dos Santos Mártires, assim como os
dignitários da Igreja, nos mais altos cargos da hierarquia, diferenciam-se pelo
vermelho de suas vestes e chapéus, como ocorre com os cardeais, que no mundo
profano equiparam-se  aos príncipes da realeza. Graças a isso é que os Rituais e
Instruções do Rito Escocês, desde os seus primórdios, estabelecem a cor vermelha
como básica para ele, estando presente nas paredes do Templo, nas
tapeçarias, nas
almofadas, no estandarte, e nos paramentos dos Mestres Maçons. Além disso,
estabelecem que os ornamentos, galões, franjas e jóias e demais
detalhes devem ser
dourados; estes são prateados ou brancos nos ritos Moderno e Adoniramita, assim
como no Rito de York. (7) O relato da Bíblia sobre a construção do templo de
Jerusalém fala nitidamente que não se fazia conta com a prata como
algo de valor,
sendo todos os instrumentos confeccionados de ouro e as demais estruturas
metálicas de grandes proporções, de bronze.

Para diferenciar-se, o Rito de York, e as Grandes Lojas, sob a influencia
político/religiosa anglicana, adotaram desde o início, a cor azul
celeste. No Brasil, no
período colonial, embora ainda não existissem Lojas, existiam maçons, em sua
maioria nobres portugueses iniciados no Grande Oriente da França, que
criaram, em
17 de junho de 1822 o Grande Oriente Brasílico, reinstalado em 1831
com o título de
Grande Oriente do Brasil, portanto "escocês" e "vermelho", como atestam o "Guia
dos Maçons escossezes ou Reguladores dos três graos Symbolicos do Rito Antigo e
Aceito – Rio de Janeiro – 1834" e o " Regulador Geral do Rito Escossez Antigo e
Aceito para o Império do Brasil – Rio de Janeiro – 1857"

Bibliografia:
1. O Rito Escocês Antigo e Aceito – José Castellani – Editora Maçônica
"A Trolha"
–  2.ª edição – 1996 – pág. 146.
2. Curso Básico de Liturgia e Ritualística - José Castellani – Editora
Maçônica " A
Trolha" – 2.ªdição – 1994 – pág. 79.
3. Consultório Maçônico VI – José Castellani – Editora Maçônica " A
Trolha" – 1.ª
edição– 1998 – pág. 98.
4. A Simbólica Maçônica – Jules Boucher –Editora Pensamento – 1948 – 1997 –
pág. 223.
5. Pérolas Maçônicas – Simbolismo das Cores na Franco-Maçonaria – Gilson da
Silveira Pinto – Traduções -  Editora Maçônica "A Trolha" – 1998 – pág. 151.
6. Análise da Constituição de Anderson – José Castellani e Raimundo Rodrigues –
Editora Maçônica "A Trolha" – 1995 –
7. As cores Vermelhas do Rito Escocês – Coletânea de diversos autores – Editora
Maçônica "A Trolha" – 1994.

Translate it!