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quarta-feira, 8 de outubro de 2025

Causos de Jaqueira - Padim Ciço também leva lapada

 Teve um cabra que tava com problemas com sua mulher.

Ele tava achando que a mulher andava corneando-o, e tava muito freado com isto, já sendo motivo até de mangação quando ia cortar cana.

Seus companheiros de conta, caçoavam dele no caminhão, mangavam na hora de comer e na hora de vir embora, e ele cada vez mais ficava encucado com essa estória de estar carregando uma galhada na cabeça.

E o corte de cana não rendia-lhe pensamentos para tirar de sua cabeça sua mulher deitando com outro cabra da peste.

- Que que é que eu faço? – pensava ele enquanto corria a estrovenga pela cana queimada.

Pensou, matutou, e resolveu ir pedir uma bença a uma estátua de Padim Ciço que tinha na praça de sua cidade.

Matutou o dia inteiro na cachola como é que ia pedir prá Padim Ciço "arresolver" seu problema. E a estrovenga ia e vinha, a cana deitava, e a cachola queimava.

E num era sol não.

No final do dia, depois que o sol se pôs e o caminhão os veio buscar no canavial, ainda sujo do corte de sua conta, debaixo de uma mangação arretada na carroceria vinda de seus colegas, resolveu descer na pracinha e ir conversar com a "estauta" do Padim Ciço, como ele dizia.

Se chegou perto da estátua, olhou pro semblante calmo e sereno de Padim, sua bata escura e seu chapéu e pediu em voz baixa, prá que seus amigos não o escutassem:

Padim padim Ciço, me ajuda a descobrir se minha mulé tá me corneando e se tiver faz ela parar de me trair. Mas pelo menos me mostra a cara do cabra safado que tá fazendo minha mulé.


E lá se foi prá casa, freado com aquela situação.

A sua mulher, como sempre, de banho tomado, com um sorriso no rosto que irritava a ele cada vez mais, o recebi sempre com um munguzá bem quentinho e às vezes um cuscuz.

Mas ele tava aperreado.

E um dia ele tramou: mesmo sabendo que se ele não fosse cortar a sua conta de cem braças quadradas aquele dia ele perderia sua cota de seis reais e cinqüenta centavos (o que fazia diferença prá ele) ele resolveu cabular o corte e armar uma armadilha prá safada da mulé.

E acordou de madrugada como todos dias, tomou seu cafezinho ralo, feito sem coar, pegou seu bornal e fingiu que foi tomar o caminhão.

Mas foi se esconder atrás do cemitério.

E lá ficou bem uma meia hora.

E de mansinho, mansinho, voltou prá casa, sem fazer barulhinho nenhum, sem cumprimentar ninguém na rua – passou de cabeça baixa, com o chapéu cobrindo o rosto.

Chegou na sua casa, e a meia porta estava aberta pela folha de cima.

Botou o ouvido dentro da casa e ouviu um nheco nheco que lhe incomodou.

Prá não fazer barulho, pulou a meia folha da porta e entrou devagarzinho na sua casinha.

O quarto ficava atrás de um móvel que fazia a divisão da salinha e da cama – ele de repente aparece por detrás do móvel e o que vê?

Sua mulé atracada com um cabra que só dava prá ver o traseiro branco dele.

Pegou do porrete e começo a distribuir pancada, suas vistas ficaram vermelhas, quebrava tudo e batia, batia, batia.

Onde pegasse, prá ele tava bão,

E o cabra que tava fazendo sua mulé se escafedeu pela janela dos fundos.

Ele só se deu conta que o home já tinha fugido, quando viu o pano que cobria a janela voando e a janela aberta.

A mulé tava que era só roxo, a cama tinha quebrado, as louças tavam espalhadas pelo chão – tudo era uma bagunça só.

E ele, ficando ainda mais brabo, sai prá rua atrás do cabra safado.

Mas o cabra correu numa carreira de quem viu o diabo pela fresta da porta e o corneado num alcançou ele.

Mas chegou, ofegando, lá na pracinha onde tinha o Padim Ciço.

Ainda com o porrete na mão olhou prá estátua e começou a bater nela com o porrete, destruindo-a, pois a mesma era de gesso.

E foi voando caco prá tudo que é lado.

E o cabra gritava:

- Eu pedi prá resolver o meu problema Padim Ciço, e não prá chegar em casa e ver o traseiro do cabra safado e continuar corneado!!

E foi assim que a estátua daquela praçinha virou pó...

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