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quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

A igreja e a maçonaria

Do jornal O PESQUISADOR MAÇÔNICO

IGREJA CATÓLICA X MAÇONARIA (Nos Dias Atuais)
Dom Lélis Lara

Dom Lélis Lara fala sobre relação da Maçonaria e Igreja Católica.
Bispo Emérito e Consultor Jurídico da CNBB proferiu palestra para
platéia de 200 pessoas, no Templo da Loja Maçônica União de Ipatinga.
DOM LARA palestrou, por cerca de 40 minutos, para uma atenta e
diversificada platéia, entre os quais o padre Geraldo Ildeu
(conservador).

O Bispo Emérito da Diocese Itabira-Coronel Fabriciano, Dom Lelis Lara,
foi o centro das atenções de um eclético e seleto público, na noite da
última segunda-feira, (01 de setembro de 2010, segundo mensagem
repassada " via Internet " pelo Ir.'. Sérgio Antônio), quando proferiu
inédita palestra sobre as relações entre a Igreja Católica e a
Maçonaria, no Templo da Loja Maçônica União de Ipatinga, no centro da
cidade. O religioso palestrou a convite do Venerável Mestre da Loja
União de Ipatinga, Ednaldo Amaral Pessoa que tem como um dos pilares
de sua gestão a realização de sessões públicas onde são realizadas
palestras, abertas à comunidade, sobre temas diversos e de grande
interesse de toda sociedade, não apenas dos maçons e seus familiares.

Segundo Dom Lara, o Concílio Vaticano II (1963-1965) escancarou as
portas e janelas da Igreja para o mundo, e que depois do Concílio o
propósito da Igreja Católica é se aproximar de todas as pessoas do
mundo, sem preconceito sejam elas cristãs ou não.

E foi exatamente no espírito do Concílio Vaticano II que o Bispo se
inspirou para falar da relação entre a Igreja Católica e a Maçonaria.
Dom Lara disse que quando se fala de Igreja e Maçonaria, muitas vezes
se estabelece ou se imagina um confronto entre essas duas entidades,
mas não deveria ser assim, porque católicos são cristãos e os maçons
também, senão todos, certamente grande parte. E Jesus, ao final de sua
vida, deixou para os seus seguidores o testamento de que devemos amar
uns aos outros. Mas, segundo o bispo, esta palavra de Jesus não foi
sempre bem entendida, e que às vezes é entendida de acordo com a
índole das pessoas, e as pessoas mais radicais muitas vezes ficam com
o coração armado, na defensiva ou no ataque, quando, como filhos de
Deus, deveriam viver como irmãos, com o coração desarmado, respeitando
as diferenças.

Ritos

Inicialmente, Dom Lara apresentou, de forma objetiva, a história da
Igreja Católica, destacando a caminhada da Igreja - que já dura mais
de dois mil anos - e que a instituição é como um barco no meio do
oceano, que passou por muitos escolhos e superou muitas tempestades, e
que procura sempre se adaptar aos tempos. O bispo lembrou ainda que o
Papa João XXIII, responsável pela convocação do Concílio do Vaticano
II, foi o grande responsável por colocar a Igreja Católica no caminho
da atualização. Entretanto, segundo Dom Lara, este trabalho de
atualizar a Igreja não é fácil, porque há várias correntes ou
tendências dentro da própria Igreja, o que dificulta a caminhada.

Dom Lara destacou também que a Igreja Católica mundial adota dois
ritos (maneira de celebrar a liturgia e de organizar a vida da Igreja)
distintos: o rito latino e o rito oriental, sendo que na Igreja
Católica oriental existem padres casados exercendo o ministério, o que
não é admitido pela disciplina da Igreja Católica Latina. Esta
postura, de dois ritos distintos, de acordo com o Bispo, é em respeito
às grandes tradições e costumes dos orientais católicos. Dom Lara
apresentou também à platéia o índice esquemático do Código de Direito
Canônico, dando uma ideia de como se constitui, se organiza e funciona
a Igreja Católica, destacando que o Povo de Deus está em evidência na
sociedade eclesial.

Ele finalizou seu breve relato da história da Igreja dizendo que
estava ali em simples pinceladas, um retrato da Igreja Católica, que
nós dizemos 'santa e pecadora'.

Maçonaria Operativa

Em seguida, Dom Lara discorreu sobre a origem da maçonaria, na idade
média, quando a sociedade civil se constituía de corporações, entre as
quais se destacaram as associações religiosas e as de operários.
Dentre as de operários tinha destaque especial a dos pedreiros, que,
por causa dos seus serviços apreciados em edifícios públicos,
especialmente em igrejas, gozava de certas prerrogativas, de isenções
e de franquias.

Daí a origem de franc-maçon, ou pedreiros livres. Todos eram
profundamente religiosos e cada associação queria firmar seus
alicerces na religião, que dominava a sociedade, a fim de garantir sua
estabilidade e proteger seus membros, proporcionando-lhes bem-estar
físico, desenvolvimento intelectual e eterna felicidade à alma.

Maçonaria Filosófica ou Especulativa

Citando vasta bibliografia consultada, Dom Lara lembrou que o pastor
protestante James Anderson foi o responsável pela elaboração das
Constituições  maçônicas, que em 1723 foram adotadas pela Grande Loja
de Londres, que havia sido fundada em 1717. Dom Lara não deixou de
citar também que foi James Anderson que distinguiu a Maçonaria
Operativa, já extinta àquela época, da Maçonaria Especulativa, que
pretendia plasmar o século das luzes, tendo por base Liberdade,
Fraternidade e Igualdade. A grande diferença entre as duas fases da
Maçonaria, a Operativa e a Especulativa ou Filosófica, é que na
segunda os ofícios (pedreiros, carpinteiros etc.) passaram a ser
simbólicos.

Em vez da construção de catedrais de pedra, o ideal devia ser, a
partir de então, a edificação de catedrais humanas, ou homens ideais,
para honra do Grande Arquiteto do Universo (Deus)

Aproximação

Já entrando na questão das divergências entre as duas instituições,
Dom Lara lembrou que a partir do século XIX, mais precisamente em
1877, o Grande Oriente da França suprimiu de suas constituições o
dever de acreditar em Deus e na imortalidade da alma, e admitiu em
seus quadros irreligiosos e ateus, caindo na irregularidade. Em função
disto, a Loja Mãe da Maçonaria, Grande Loja Unida da Inglaterra,
cortou relações com ela e ainda as mantém cortadas.

Assim, constatado que o anticlericalismo e o anticatolicismo se
verificam apenas na Maçonaria irregular e não são da essência da
Maçonaria Universal, é cada vez mais forte o movimento de aproximação
entre a Igreja Católica e a Maçonaria. Ainda segundo o Bispo, é neste
contexto que devem se colocar os pronunciamentos da Igreja Católica
após o Concílio Vaticano II.

Dom Lara citou ainda um trecho bíblico ... não deixes tua mão esquerda
saber o que a direita faz (Mateus 6,3) para enaltecer uma das
convicções dos maçons, que é a de praticar a filantropia sem dar
publicidade ao ato. O que, segundo ele, é um princípio louvável. O
Bispo foi enfático também ao afirmar que muitas vezes a Maçonaria é
vista como associação envolta em mistérios, segredos, como por
exemplo, sinais para se identificarem como maçons; e isso faz com que
muitos imaginem ou fantasiem coisas estranhas, ridículas e absurdas,
como pactos com o diabo e coisas assim.

Relação tensa

Ao discorrer sobre o relacionamento entre a Igreja e a Maçonaria, Dom
Lara disse que ao longo da história, aconteceu muita coisa que¸
infelizmente, devemos lamentar. As relações entre estas duas
instituições foram tensas.

Mas essas tensões não tinham a mesma intensidade em todas as regiões.
Antes do Concílio Vaticano II o posicionamento da Igreja Católica em
relação à Maçonaria era muito severo. O cânon 2335, do antigo Código
de Direito Canônico, estabelecia excomunhão para quem ingressasse na
Maçonaria ou em outras associações que maquinassem contra a Igreja ou
autoridades civis legitimamente constituídas.

No atual código de Direito Canônico esta penalidade não consta. Aliás,
a palavra Maçonaria não é conhecida no atual código de Direito
Canônico. O cânon 1374 desse Código penaliza o católico que ingressar
em associação que maquina contra a Igreja.

Não se refere explicitamente à Maçonaria, enfatizou o religioso.

Para Dom Lara, na Região Metropolitana do Vale do Aço as relações
entre Igreja Católica e Maçonaria parecem tranquilas, e que o Bispo
Diocesano, Dom Odilon Guimarães Moreira tem a mesma impressão.

Ele citou ainda dois acontecimentos recentes que definem bem a boa
relação entre as duas instituições. Um que teve grande repercussão
nacional, e mesmo fora do Brasil, a missa celebrada, no Natal de 1975,
na Loja Maçônica Liberdade, de Salvador, pelo Exmo. Sr. Cardeal Avelar
Brandão Vilela, Arcebispo daquela cidade, já falecido. Naquela
oportunidade, o Cardeal foi agraciado com distinta honraria da
Maçonaria. No ano seguinte, 1976, semelhante homenagem recebeu o
Cardeal Arcebispo de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns, destacou.

Mas Dom Lara deixa claro que a relação Maçonaria e Igreja Católica não
é a mesma em todos os lugares, e que depende da orientação de seus
responsáveis ou dirigentes.

Segundo ele, coisa semelhante acontece com a Igreja Católica e Igrejas
Protestantes, citando como exemplo casos em que pretende-se realizar a
celebração ecumênica de um casamento entre uma parte católica e a
outra de religião cristã não católica. Há pastores que o permitem e há
os que se opõem radicalmente a tal celebração.

Segundo ele, dentro da própria Igreja Católica, em questões não
definidas pela doutrina ou autoridade da Igreja, a orientação ou
decisão dos bispos não é sempre a mesma.

O Bispo Emérito da Diocese Itabira-Coronel Fabriciano finalizou sua
palestra com uma mensagem de união para os presentes: o desejo ardente
de Jesus Cristo é que todos sejam UM. E que todas as pessoas da Terra
se enlacem num grande abraço. Este sonho de Jesus Cristo deve
encontrar eco e ressonância no coração de todos nós, seus seguidores.
Ao longo da história sempre surgiram pessoas sensíveis ao projeto de
Deus ao criar o homem e a mulher à sua imagem e semelhança.

Para o presidente da Loja Maçônica União de Ipatinga, Ednaldo Amaral
Pessoa, a visita de Dom Lara proporcionou momentos de rara felicidade
a todos aqueles que compareceram à sessão. A manifestação de Dom Lara
foi simplesmente louvável, pois proporcionou oportunidade para que
misticismos acerca da Maçonaria e da Igreja Católica fossem
esclarecidos destacou.

Ednaldo destacou ainda que a mensagem de Dom Lara mostrou-nos a lição
de que a relação com DEUS, para quem crê, é terapêutica e nos leva a
viver a cura de nossas feridas interiores e físicas. Por fim,
ressaltou que a presença de Dom Lara na Loja Maçônica demonstrou o
quão grande é a sua coragem, restando constatada a erudição,
sabedoria, inteligência e simplicidade, tão peculiar em Dom Lara.

A palestra de Dom Lara foi acompanhada por cerca de 200 pessoas,
representantes de vários setores da comunidade, como Lions, Rotary,
Judiciário, OAB e padres, além de membros de várias Lojas Maçônicas da
região metropolitana do Vale do Aço.

A palestra despertou de tal forma o interesse da comunidade que a
administração da Loja União de Ipatinga teve que colocar um telão no
salão que antecede seu Templo para que várias pessoas não voltassem
para casa sem assistir a palestra, visto que o interior do Templo já
estava completamente lotado.

Ao final da cerimônia, Dom Lara foi homenageado com uma placa de
agradecimento e reconhecimento aos relevantes serviços prestados à
comunidade, bem como por seu desprendimento em realizar a inédita
palestra.

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