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sexta-feira, 15 de abril de 2011

Conto: Rotas (17 - A Estrela)

Aquelas manifestações da cólera divina ainda imprimiam-lhe
sentimentos de desespero no coração - aquilo fora terrível, ver os
homens caindo, gritando, e ele ali, sem nada poder fazer.

Não sabia ao certo o que estava aprendendo, mas era certo que a cada
experiência que passava, cada vez mais sentia-se impotente diante do
Altíssimo.

Encontrou um riacho e nele resolveu se banhar - talvez para que seu
corpo já carregado pudesse escoar alguma energia para a água.

Ao entrar na água tépida, sentiu um arrepio - era mais um sinal de
que algo ainda estava por vir - um calafrio percorreu-lhe a espinha e
ele logo se viu rodopiando, os olhos faiscantes e a respiração trôpega
- era desesperador.

Agarrou-se à vegetação da margem do rio como pôde, até que sua visão
novamente se conectasse com este mundo.

Logo que enxergou a margem do rio e seus barrancos, saiu da água e
pôs-se a procurar pelas suas roupas.

Andava rio acima, já ciente de seus pensamentos, procurando,
procurando, até que se deparou com uma mulher nua na beira da água,
enchendo dois odres no rio - ou será que esvaziava ? Parecia que ela
tirava água do rio e jogava em sua margem - tentaria ela esvaziá-lo ?

Parecia o conhecimento: nunca poderia ser esvaziado completamente de
uma pessoa...

No céu, as primeiras estrelas da noite apareciam, e por sobre a
cabeça da adorável criatura, uma estrela de sete raios a iluminava em
seu resplendor. Numa árvore próxima um pássaro a observava, meio
furtivamente, contemplando e admirando aquele fantástico e mágico
corpo.

Ciente de sua nudez ele se apavorou, mas a criatura de tão entretida
que estava em suas atividades, não lhe dirigiu o olhar. Seria ela cega
?

Resolveu dar a volta e chegando por detrás daquele maravilhoso corpo
feminino, sussurrou-lhe no ouvido para que não se virasse e indagou
sobre o paradeiro de suas vestes, ao que foi informado que a donzela
nada sabia, mas acrescentou-lhe a palavra perdida no fim da frase,
dizendo-lhe que ela permitiria-lhe ousar e encontrar todos os segredos
da criação.

Agradecendo-lhe, o Louco dirigiu-se mais uma vez rio acima, e ao
pronunciar a palavra perdida, um vento horrível se fez presente,
levando suas vestes para junto de si. Que poder !

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