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quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Conto: Rotas (7 - O Carro)




O Carro

Fora difícil a decisão, mas necessária.

Duas forças concomitantes, mas que não concorriam para um fim comum
não o ajudavam a viver melhor ou mais.

Com este pensamento voltou para a estrada, onde o pó assolava-lhe as
narinas e a solidão o acompanhava. Há muito seu fiel cachorro o
abandonara, tal como fizera com sua vida, era preciso sempre
renovações no sentido de continuar crescendo...

O sol já ia a pino, o suor descia-lhe pela testa, a fome corroía suas
entranhas, mas nada de encontrar algum sítio onde pudesse repousar à
sombra, longe do sol escaldante, num lugar fresco que ele pudesse quem
sabe até caçar algo, ou tentar fazer algo surgir do nada que carregava
em seu amarrotado bornal.

Muito ao longe distinguiu a poeira levantando na estrada, mas pensou
tratar-se de alucinação, mas acontece que com o tempo aquela nuvem de
poeira ia cada vez mais a seu encontro e cada vez mais tomava vulto.

Pouco tempo depois deparou-se com um nobre cujas iniciais eram "SM",
mas que não quis revelar-lhe sua identidade. Era nobre a julgar pelas
suas roupas e seu porte, e também pela suntuosidade do dossel que o
protegia do causticante sol.

Mas algo não estava certo naquela biga: seus cavalos pareciam não
obedecer seus comandos, nem as rodas de seu coche pareciam
prestar-lhes ajuda.

O Louco, que até agora mantivera-se calado observando o tão estranho
paladino, que brigando com as bridas não parecia conseguir resultado
algum com tão indômitos ginetes, resolveu pedir-lhe algo para comer,
reclamando de sua desafortunada situação de fome.

O bravo cavaleiro, atrapalhado com o destino de tão antagônicos
ginetes, atirou-lhe um pedaço de pão e um odre de vinho, mas comentou
que desafortunado era ele, que no comando de duas excelentes
montarias, via-se incapaz de controlar-lhes o ímpeto - sua vida era
cheia de forças antagônicas, cheia de forças que atrapalhavam suas
manobras, apesar de quase sempre estar convicto do que queria fazer,
ou qual direção a tomar.

Entendendo a mensagem, puseram-se a caminhar, cada qual com seus
meios, nas direções a que se destinavam anteriormente, imersos em
pensamentos um do outro.

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