Pertenço ao grupo de irmãos que citou várias vezes "egrégora" em suas
"Peças de Arquitetura", inclusive em livro editado: em um tópico sobre
a "Cadeia de União". Os depoimentos de vários irmãos e as leituras de
diversos textos destacando os benefícios daquela forma de energia e de
seus efeitos sobrenaturais marcaram um significativo período de minha
vida maçônica.
Entretanto, com o passar dos anos, persistindo em minha caminhada pela
"busca da verdade‟, depararei com diversos textos, estudos e opiniões
de outros pesquisadores maçônicos contestando o disseminado conceito
de "egrégora‟. Diante de minha inquietude, resolvi arregaçar as mangas
e realizar uma pesquisa pessoal sobre o tema.
Debrucei-me sobre vários textos: artigos, livros, citações etc.
(maçônicas e não maçônicas), e procurei o "confronto‟ entre os
pensadores. Em nome da verdade, devo admitir que não encontrei
absolutamente nada que comprove, justifique ou explique de forma
coerente e racional a existência das "egrégoras".
Inicialmente, vale o registro de que não encontrei o termo "egrégora"
em nenhuma passagem nas versões na língua portuguesa de alguns
principais Livros Sagrados que pesquisei: a Bíblia (católica e
protestante), o Torá, o Bhagavad-Gita e o Alcorão; e nem em livros
referentes ao kardecismo ("O Evangelho segundo Kardec") e budismo ("A
Bíblia do Budismo").
Nenhuma dessas obras relacionadas fazem qualquer citação ao termo
"egrégora". Da mesma forma, afirmo que nenhum dos rituais maçônicos
que tive acesso, nos três graus simbólicos: Schröder, REAA, YORK,
Brasileiro e Moderno, assim como os rituais dos Altos Graus do REAA e
do Brasileiro, em nenhum deles, aparece a citação do termo "egrégora‟,
muito menos de suas benesses.
Após complementar a pesquisa com diversas consultas à internet,
conclui que existe um consenso entre os irmãos que questionam o uso do
termo "egrégoras" na Maçonaria, de que o seu aparecimento no meio
esotérico remonta a 1824 com o ocultista Eliphas Levi que a definiu
como "capitães das almas", e que, posteriormente, teve o seu sentido
"adaptado‟ às diversas interpretações esotéricasmísticas-ocultistas
que foram agregadas à Maçonaria ao longo dos anos por autores
maçônicos franceses que, ao final do século XIX, insistiram em
transformar a Maçonaria em um braço esotérico do espiritismo, tal como
os seus antecessores ingleses insistiram em cristianizá-la.
As doutrinas que aceitam a existência das "egrégoras", de diferentes
formas, afirmam que elas estão presentes em todas as coletividades,
sejam nas mais simples associações, ou mesmo nas assembléias
religiosas, "plasmada pelo somatório de energias físicas, emocionais
e mentais dos membros do grupo, na forma de uma poderosa entidade
autônoma que adquire individualidade e interfere nas vidas e nos
destinos das pessoas, sendo capaz de realizar no mundo visível as suas
aspirações transmitidas ao mundo invisível pela coletividade
geradora".
Após ler e refletir bastante sobre o tema fiz algumas observações e
alguns questionamentos que divido com os irmãos. Não considero nenhum
absurdo aceitar que a reunião de várias pessoas, mentalizando e
direcionando os seus pensamentos para o alcance de um objetivo comum
possa gerar uma energia "positiva‟ que proporcionará "aos membros
desse grupo‟ uma sensação de bem estar, de alívio de tensão ou algo
similar; também aceito que o contato físico – como na Cadeia de União
– amplie essas sensações, pois serve para renovar e fortalecer o
companheirismo que deve existir entre os irmãos, relembrando-lhes
sempre que o objetivo primário da Maçonaria é nos unir de modo que
formemos um só corpo, uma só vontade e um só espírito.
Mas, como aceitar, ou crer, que a "energia‟ emanada de nossas mentes
possa plasmar uma "entidade‟ movida por vontade própria que irá
interferir – para o bem ou para o mal – nas vidas e nos destinos das
pessoas? Ou que seja capaz de realizar no mundo visível as suas
aspirações transmitidas ao mundo invisível pela coletividade geradora.
Como isso poderia acontecer sem considerarmos o fator "sobrenatural‟?
Aceitar tal fato, sem questionamento, é fugir do racional. É mais
lógico fundamentar essa crença à interferências de conceitos
superficiais ou subjetivos ligados a superstição, que não necessitam
ser demonstrados, mas nos proporcionam uma falsa sensação de
segurança. A maçonaria nos orienta a não nos entregarmos às
superstições; logo, não podemos desprezar a lógica e a razão aceitando
passivamente ilusórias promessas de felicidade e proteção advindas de
"entidades‟ sobrenaturais plasmadas em nossas sessões.
Concluindo, entendo que as chamadas "egrégoras" são quimeras
sustentadas por forças motivadoras da superstição, e como tal se deve
evitar a utilização dessa expressão na maçonaria, de modo a não
contribuirmos à perpetuação e validação de uma falsa "entidade
psíquica‟ gerada pela equivocada crença no desconhecido, que, na
verdade, camufla a necessidade de mantermos um controle racional sobre
os nossos temores. Mas essa decisão é pessoal e passa pela
conscientização de cada um.
O maçom deve ser livre para investigar a verdade, crer naquilo que
melhor lhe confortar, e deve utilizar as suas "descobertas‟ para o
seu próprio crescimento pessoal. As palavras, e até mesmo os
equivocados conceitos por trás delas, se esvaecem ante o objetivo
maior da maçonaria de formar livres pensadores.
[1] Extraído do Informativo Maçônico "JB News nº 482".
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