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sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Noite Feliz - origem da canção

Origem da canção "Noite Feliz" atrai turistas à Áustria:

(Folha de São Paulo)

Em 24 de dezembro, milhares de turistas irão mais uma vez para
Oberndorf, perto de Salzburgo (região central da Áustria), onde há 185
anos foi composta "Noite Feliz", uma das mais conhecidas canções
natalinas."Stille Nacht, Heilige Nacht" em alemão, "Noite Feliz" em
português, "Silent Night" em inglês, "Douce Nuit" em francês: hoje
traduzida para 330 idiomas, a canção de Natal austríaca foi criada por
acaso, quando quebrou o órgão da igreja do povoado de 6.000
habitantes.

Em 1818, dois dias antes do Natal, o antigo órgão da igreja de São
Nicolau, a paróquia do padre Joseph Mohr, parou de tocar. Para não
decepcionar os fiéis, o sacerdote pediu ao amigo Franz Xaver Gruber,
maestro e organista do vizinho povoado de Arnsdorf para compor uma
melodia para um texto de Natal que ele havia escrito dois anos antes.

Na Missa do Galo de 24 de dezembro, o padre Joseph Mohr, com sua bela
voz de tenor e que tocava violão, e Gruber, com sua bela voz de baixo,
interpretaram pela primeira vez, em alemão, a canção "Noite Feliz".

O fato era totalmente incomum na época, quando os textos religiosos
ainda eram escritos em latim. Mas Mohr achava que uma letra simples e
fácil de entender era o mais adequado para seus fiéis, na grande
maioria barqueiros e camponeses.

Em 1831, um coral que se dedicava a executar cantos populares
tiroleses incorporou a canção natalina do padre Mohr a seu repertório
durante uma viagem pela Rússia. Dali, a canção viajou para Nova York,
onde foi interpretada por um coral tirolês em 1839, mas onde seus
autores e sua origem permaneceram desconhecidos.

Trinta e seis anos depois, a corte prussiana, que procurava a
partitura original da canção, consultou o pároco de São Pedro de
Salzburgo que, para surpresa geral, disse que Mohr e Gruber, mortos no
anonimato em 1848 e 1863, respectivamente, eram os autores daquela
canção que tinha sido atribuída ao compositor austríaco Michael Haydn.

Hoje, Oberndorf vela para que os dois homens não sejam esquecidos. Em
1937 foi construída uma capela no mesmo local onde, no século
anterior, ficava a paróquia de São Nicolau, que foi destruída em 1913
por uma inundação. A ela foi dado o nome de "Noite Feliz" e em seus
vitrais aparecem os retratos de Mohr e Gruber.A capela é hoje uma
atração turística que recebe 150 mil visitantes por ano.

Mas, como a capela só tem capacidade para 20 pessoas, em 24 de
dezembro o padre Nikolaus Erber celebra a missa ao ar livre, visto que
tradicionalmente 7.000 pessoas acompanham a Missa do Galo em
Oberndorf.

Noite Feliz na 1º Guerra Mundial:

Finalmente parou de chover. A noite está clara, com céu limpo,
estrelado, como os soldados não viam há muito tempo. Ao contrário da
chuva, porém, o frio segue sem dar trégua. Normal nesta época do ano.
O que não seria normal em outros anos é o fedor no ar. Cheiro de
morte, que invade as narinas e mexe com a cabeça dos vivos alemães e
britânicos, inimigos separados por 80, 100 metros no máximo.

Entre eles está a terra de ninguém, assim chamada porque não se
sobreviveria ali muito tempo. Cadáveres de combatentes de ambos os
lados compõem a paisagem com cercas de arame farpado, troncos de
árvores calcinadas e crateras abertas pelas explosões de granadas.

O barulho delas é ensurdecedor, mas no momento não se ouve nada.
Nenhuma explosão, nenhum tiro. Nenhum recruta agonizante gritando por
socorro ou chamando pela mãe. Nada.

E de repente o silêncio é quebrado. Das trincheiras alemãs, ouve-se
alguém cantando. Os companheiros fazem coro e logo há dezenas, talvez
centenas de vozes no escuro.

Cantam Stille Nacht, Heilige Nacht. Atônitos, os britânicos escutam a
melodia sem compreender o que diz a letra. Mas nem precisam: mesmo
quem jamais a tivesse escutado descobriria que a música fala de paz.
Em inglês, ela é conhecida como Silent Night; em português, foi
batizada de Noite Feliz. Quando a música acaba, o silêncio retorna.

Por pouco tempo.Good, old Fritz!, gritam os britânicos. Os Fritz
respondem com Merry Christmas, Englishmen!, seguido de palavras num
inglês arrastado: We not shoot, you not shoot!(Nós não atiramos, vocês
também não).

Estamos em algum lugar de Flandres, na Bélgica, em 24 de dezembro de
1914. E esta história faz parte de um dos mais surpreendentes e
esquecidos capítulos da Primeira Guerra Mundial: as confraternizações
entre soldados inimigos no Natal daquele ano. Ao longo de toda a
frente ocidental que se estendia do mar do Norte aos Alpes suíços,
cruzando a França , soldados cessaram fogo e deixaram por alguns dias
as diferenças para trás.

A paz não havia sido acertada nos gabinetes dos generais; ela surgiu
ali mesmo nas trincheiras, de forma espontânea. Jamais acontecera algo
igual antes. É o que diz o jornalista alemão Michael Jürgs em seu
livro Der Kleine Frieden im Grossen Krieg Westfront 1914: Als
Deutsche, Franzosen und Briten Gemeinsam Weihnachten Feierten (A
Pequena Paz na Grande Guerra Frente Ocidental 1914: Quando Alemães,
Franceses e Britânicos Celebraram Juntos o Natal, inédito no Brasil).

Quando chovia forte, a água batia na altura dos joelhos. Dormia-se em
buracos escavados na parede e era comum acordar assustado no meio da
noite, por causa das explosões ou de uma ratazana mordiscando seu
rosto. Durante o dia, quem levantasse a cabeça sobre o parapeito era
um homem morto. Os franco-atiradores estavam sempre à espreita (no
final da tarde, praticavam tiro ao alvo no inimigo e, quando
acertavam, diziam que era um beijo de boa-noite). O soldado
entrincheirado passava longos períodos sem ter o que fazer. Horas e
horas de tédio sentado no inferno. Só restava esperar e olhar para céu
onde não havia ratazanas nem cadáveres.

Ainda assim, era difícil imaginar o que estava por vir. Na noite do
dia 24, em Fleurbaix, na França, uma visão deixou os britânicos
intrigados: iluminadas por velas, pequenas árvores de Natal enfeitavam
as trincheiras inimigas. A surpresa aumentou quando um tenente alemão
gritou em inglês perfeito: Senhores, minha vida está em suas mãos.

Estou caminhando na direção de vocês. Algum oficial poderia me
encontrar no meio do caminho? Silêncio.

Seria uma armadilha? Ele prosseguiu: Estou sozinho e desarmado. Trinta
de seus homens estão mortos perto das nossas trincheiras.. Gostaria de
providenciar o enterro.

Dezenas de armas estavam apontadas para ele. Mas, antes que
disparassem, um sargento inglês, contrariando ordens, foi ao seu
encontro. Após minutos de conversa, combinaram de se reunir no dia
seguinte, às 9 horas da manhã.

No dia seguinte, 25 de dezembro, ao longo de toda a frente ocidental,
soldados armados apenas com pás escalaram suas trincheiras e
encontraram os inimigos no meio da terra de ninguém. Era hora de
enterrar os companheiros, mostrar respeito por eles ainda que a morte
ali fosse um acontecimento banal. O capelão escocês J. Esslemont Adams
organizou um funeral coletivo para mais de 100 vítimas. Os corpos
foram divididos por nacionalidade, mas a separação acabou aí: na hora
de cavar, todos se ajudaram.

O capelão abriu a cerimônia recitando o salmo 23. O senhor é meu
pastor, nada me faltará, disse. Depois, um soldado alemão,
ex-seminarista, repetiu tudo em seu idioma. No fim, acompanhado pelos
soldados dos dois países, Adams rezou o pai-nosso. Outros enterros
semelhantes foram realizados naquele dia, mas o de Fleurbaix foi o
maior de todos.

*(Este texto foi originalmente publicado na revista Aventuras na
História em março de 2004)

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