O Complexo de Édipo é o conceito central da psicanálise que descreve a organização dos desejos e das identificações infantis em relação aos pais. Embora Freud o tenha formulado, Lacan o reinterpretou radicalmente, passando de um drama psicológico-afetivo para uma estrutura linguística-simbólica.
Aqui está um esclarecimento do Complexo de Édipo segundo Freud e Lacan:
1. Complexo de Édipo segundo Sigmund Freud (Psicologia e Biologia)
Freud via o Édipo como um drama psicossexual que ocorre na fase fálica (entre 3 e 5 anos) e é o núcleo de todas as neuroses. Eleborou que o desejo da criança pelo genitor do sexo oposto (objeto de amor) motiva a rivalidade com o genitor do mesmo sexo (rival). É baseado no mito de Édipo Rei, que mata o pai e casa-se com a mãe.
No caso do menino, ele tem o desejo pela mãe e o pai é visto como rival. O medo de ser punido pelo pai com a castração (perda do pênis) o leva a reprimir o desejo pela mãe e a se identificar com o pai., formando o SuperEgo, base da censura e do comportamento social (instância moral). Na menina esse complexo é considerado mais complexo. A menina transfere o objeto de amor da mãe para o pai ao notar a ausência do pênis (o complexo de castração). O desejo de ter um bebê do pai (como substituto do pênis) a leva a aceitar a feminilidade.
Para Freud, o Complexo de Édipo tem o caráter fundamentalmente biológico (diferença anatômica dos sexos) e afetivo (amor/ódio direcionado a pessoas reais).
Já segundo Jacques Lacan, psicanalista francês, o Complexo de Édipo tem nuances de simbolismo da linguagem e papéis culturais e não é essencialmente biológico/aeftivo.
Lacan "retornou a Freud" submetendo o Édipo a uma leitura estrutural e linguística. Para ele, o Complexo não é primariamente sobre pais e mães reais, mas sobre a estrutura simbólica da linguagem e a Lei, subtituindo o medo da castração freudiana (perda do órgão) pelo conceito de Nome-do-Pai e a Função Paterna.
O conceito de Nome-do-Pai, não é sobre o pai biológico, mas sobre a função simbólica que introduz a Lei (a proibição do incesto) na psique da criança. É a metáfora paterna que substitui o desejo da mãe pelo falo (o falo aqui é o significante do desejo materno). A lei introjetada spbre o Nome-do-Pai interdita a relação dual e fusional entre Mãe e Criança, impondo o mundo da cultura, da linguagem (o Simbolismo) e das relações sociais.
Nesse mecanismo da construção do Nome-do-Pai, Lacan define 3 tempos do Complexo de Édipo, momentos lógicos que são essenciais para a constituição do sujeito:
No 1º Tempo, a criança é o Falo (imaginário) da Mãe. Ela deseja ser tudo o que satisfaz o desejo da Mãe (a Mãe também deseja o Falo). A criança se identifica com o objeto do desejo materno e permanece alienada no Imaginário (a dualidade Mãe-Criança). Note aqui o Falo não como o órgão físico, mas como estruturante do poder do pai em satisfazer o desejo materno. No 2º Tempo, aparece a intervenção do Pai Imaginário: o Pai aparece como aquele que possui o Falo e é capaz de privar a Mãe de seu objeto (a criança). Então a criança descobre que a Mãe deseja algo fora dela (o Falo, encarnado no Pai). Isso faz com que ela, a criança, começa a se afastar da Mãe para buscar o objeto desejado. Isso leva ao 3º Tempo, onde a Intervenção do Nome-do-Pai (simbólico) aparece, como o Pai que impõe a Lei (a castração simbólica), proibindo a Mãe de ter o Falo e a criança de ser o Falo. A criança aceita a Lei da Castração e se inscreve no Simbólico (a ordem da linguagem e da cultura), o que define sua posição de gênero e orienta seu desejo.
Comparando Freud e Lacan, Freud vê a natureza do Complexo de Édipo como sendo psicológica, libidinal e baseada na anatomia (Pênis). Já Lacan vê como linguística e simbólica (Falo). O agente do Complexo para Freud é o Pai biológico real e o medo dele castrar a criança para evitar que ela satisfaça a mãe, já Lacan vê a criação do Nome-do-Pai como a proibição de satisfazer o desejo da mãe pela criança (função simbólica que estrutura o inconsciente como linguagem).
O resultado é a formação da personalidade (a definição das regras que serão incorporadas ao SuperEgo) e a escolha do objeto de desejo posterior, para Freud. Já Lacan acha que o resultado é a constituição do sujeito na linguagem e no social, definindo a posição subjetiva perante o desejo e a Lei.
Em suma, Lacan desbiologiza o Édipo, transformando-o de um evento familiar em uma estrutura universal que inscreve o ser humano na ordem da linguagem e da cultura.
Uma observação para os pais jovens é que a criança maquina a todo tempo evitar que o mãe tenha contato com o pai, seja se intrometendo no meio dos dois em um abraço ou dormindo entre os dois, seja sabotando relações do pai e da mãe. Vi isso acontecer bastante com crianças pequenas e cabe aos pais definirem limites bem claros para que a criança constitua o seu SuperEgo, de acordo com Freud, ou que entenda as proibições sociais e seu papel na cultura, de acordo com Lacan.
Se deixar solto, elas tomam conta, comportamente esse que refletirá na vida adulta com diversos problemas e recalques difíceis de se resolver.




