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*Contraesterço é uma das formas mais eficientes de pilotar*
Texto: Geraldo Tite Simões
Uma das formas mais eficientes de pilotar motos, sobretudo as mais pesadas,
é por meio da técnica do contra-esterço. Não confunda com o contraesterço
praticado em carros e karts, quando começam a derrapar de traseira. Nem com
a pilotagem agressiva nas pistas quando o piloto mantém a moto derrapando.
O contraesterço que vou explica poderia ser chamado simplesmente de
"esterço" que também estaria certo e não causaria nenhum nó da cabeça das
pessoas. O problema está em mentalizar esse "contra" que aparece na frente.
Basicamente se resume em provocar um desalinhamento na moto em movimento de
forma intencional. Imagine que a moto é um veículo com duas rodas em posição
definida como "tandem", ou seja, uma na frente da outra e não ao lado. Se
provocarmos um desalinhamento na roda dianteira o veículo tentará realinhar
sozinho. Para isso produz uma inclinação no sentido contrário e traz a roda
junto. Resumindo: quando se empurra (note que é empurrar e não inclinar) o
guidão para o lado esquerdo, a moto se inclina para a direita e a roda gira
para a direita.
Sim, é complicado de explicar por escrito. Sempre aviso que ensinar a
pilotar por escrito é tão difícil quanto ensinar um índio que nunca usou
sapatos a fazer o laço pelo telefone. É o tipo de situação que só se percebe
fazendo e ponto final.
Mas para não sobrecarregar nem complicar seu cérebro, esqueça o contra e
pense no esterço. Se quiser desviar para a direita empurre o guidão com a
mão direita; se quiser virar à esquerda, empurre a mão esquerda e pronto,
tudo se resolve.
Durante as aulas do curso SpeedMaster de pilotagem eu gosto de pegar todos
de surpresa com uma pergunta, como aquelas "pegadinhas" de vestibular: "Qual
a forma mais rápida de desviar de um obstáculo". Seguem-se várias respostas,
das mais originais e a surpresa geral vem na hora de revelar a reposta
certa: basta virar o guidão para o lado contrário da onde se quer ir.
Para comprovar esse efeito, usamos um dos exercícios do curso, delicadamente
apelidado de "Atropelando a Velhinha". Colocamos um cone de borracha e o
aluno precisa desviar da forma mais rápida e eficiente. Primeiro cada um faz
o exercício utilizando suas próprias técnicas de pilotagem. Depois vem a
orientação que normalmente dá um nó na cabeça dos alunos.
Para desviar para a esquerda, deve-se pressionar o guidão com a mão
esquerda, empurrando-o para o lado direito. Após uma secessão de ooohhhhhs e
aaaahhhhhhs, fica claro que ninguém ali acreditou numa só palavra, então
partimos para a aula prática. Eu mesmo faço o exercício diante de vários
pares de olhos arregalados. Com apenas a mão esquerda no guidão eu sigo até
quase bater no cone e faço a manobra, desviando a moto para o lado esquerdo.
Após constatarem que realmente funciona, chega a vez de os próprios alunos
repetirem a manobra. No começo alguns ainda não acreditam, mas após algumas
repetições todos concordam que o desvio da trajetória é muito mais rápido.
Pegue sua bicicleta – se não quiser arriscar a moto – e quando estiver em
uma boa velocidade, empurre (veja bem, é para empurrar, não é para inclinar)
o guidão para a direita e perceba que a bicicleta vai desviar imediatamente
para a esquerda. Depois pegue a moto e em uma estrada bem larga, acima de 60
km/h, tente mentalizar um obstáculo e faça a experiência de empurrar o
guidão para qualquer lado. A reação será o desvio para o lado contrário.
Aplicações do contraesterço
Desviar de obstáculos – como foi explicado, é a forma mais rápida de desviar
a trajetória.
Curvas – Em alguns casos, quando o motociclista programou errado a
velocidade, a moto tende a abrir a curva, querendo invadir a pista
contrária. Neste momento basta empurrar o guidão com a mão do lado interno
da curva que a moto "fecha" a trajetória sem precisar reduzir a velocidade.
Se a curva é para a direita, empurra-se o guidão com a mão direita e tudo se
resolve. A técnica do contra-esterço é muito utilizada nas competições,
principalmente nas curvas de baixa velocidade, na qual o piloto precisa
contornar a curva sem deixar cair muito o giro do motor.
Ultrapassagens – Para sair de trás de um carro ou moto, sem usar a cintura
ou as pernas, basta empurrar o guidão com a mão para onde quer desviar: mão
direita = vire à direita; mão esquerda = vire à esquerda.
Desviar de animais – Por estar também em movimento, é preciso muita calma e
controle mental, porque a última coisa que o motociclista pode fazer é
atropelar um animal freando a moto. Neste momento o impacto pode ser tão
forte que a moto capote de frente. É preciso reagir rápido, desviar, mas sem
frear! Nesta hora o contra-esterço ajuda muito.
Falando em animais, viajando pelo interior do Brasil é muito comum encontrar
animais na pista. É incrível a quantidade de cachorros atropelados pelos
acostamentos. Existem algumas diferenças básicas para desviar de animais.
Animais de pequeno porte (gato, coelho, cachorros pequenos) é melhor não
tentar desviar porque a chance de acidente é maior do que em caso do
atropelamento. Se perceber que haverá o impacto, solte o freio, peça perdão
a Deus e siga em frente. O risco de cair ao desviar de um animal de pequeno
porte (até cerca de metade da altura da roda dianteira) é muito grande
porque eles são extremamente rápidos e imprevisíveis. E pelo baixo peso
deles, é pouco provável que irão derrubar uma moto.
Já os animais de grande porte (cavalo, capivara, jegue, vaca) são mais
lentos e mais previsíveis. Quando assustados, os eqüinos têm a tendência de
correr para a frente, portanto é melhor desviar por trás do animal. Já os
bovinos têm a tendência de andar para trás, por isso é melhor desviar pela
frente. É fácil saber a frente dos bovinos: é o lado que tem
chifres. A menos que você dê de cara com uma vaca louca, neste caso lembre
apenas de não fazer churrasco com a vítima.
----- Autor: Geraldo Tite Simões
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