O Diabo
Encontrou um bando de pessoas na beira da estrada reunidas em um alegre acampamento, onde ardia uma fogueira crepitante ao centro, e em volta as pessoas acompanhavam os voleios das labaredas.
O frio da noite já estava assentando-se em seus ossos - Seria bom parar aqui - pensou ele. E de fato, o Louco, com o seu bornal rasgado e cansado, dirigiu-se a um dos troncos para sentar-se.
Logo que se sentou, notou algo estranho - todos estavam de cabeça baixa, sem conversar, apenas murmuravam algo sobre traição, os olhos perdidos no nada, como que pronunciando um mantra de revolta e insatisfação.
Foi ficando incomodado com aquela situação, até que uma das pessoas salta para o centro da roda e em altos brados, blasfema e grita sobre traição, sobre um companheiro deles que há muito traiu a tribo, e invoca a altos brados o Senhor dos Malefícios, o Senhor da Traição, o Diabo em pessoa!!!
Tomado pelo horror, viu uma nuvem amarelada sair pelas labaredas, enquanto um cheiro horrível assolava suas narinas, acompanhado de um ribombar ensurdecedor, até que, finalmente, ele o viu, em pé, altivo, em meio às chamas: o Senhor das Profundezas!
Ele viera para julgar o traidor e levá-lo para as profundezas...
Mas o traidor há muito fora pendurado pelos pés até a morte...
O Louco achou aquilo muita loucura, e aterrorizado e entorpecido, assim que a imagem se desvaneceu, pôs-se a correr desabalamente pela estrada, tendo como companhia apenas as estrelas, sem olhar para trás nem uma única vez...
Traição era uma coisa que queria ele bem longe...
Nenhum comentário:
Postar um comentário