MARIO PRATA
Sabe tese, de faculdade? Aquela que defendem? Com unhas e dentes? É
dessa tese que eu estou falando. Você deve conhecer pelo menos uma
pessoa que já defendeu uma tese. Ou esteja defendendo. Sim, uma tese é
defendida. Ela é feita para ser atacada pela banca, que são aquelas
pessoas que gostam de botar banca.
As teses são todas maravilhosas. Em tese. Você acompanha uma pessoa
meses, anos, séculos, defendendo uma tese. Palpitantes assuntos. Tem
tese que não acaba nunca, que acompanha o elemento para a velhice. Tem
até teses pós-morte.
O mais interessante na tese é que, quando nos contam, são
maravilhosas, intrigantes. A gente fica curiosa, acompanha o
sofrimento do autor, anos a fio. Aí ele publica, te dá uma cópia e é
sempre - sempre - uma decepção. Em tese. Impossível ler uma tese de
cabo a rabo.
São chatíssimas. É uma pena que as teses sejam escritas apenas para o
julgamento da banca circunspecta, sisuda e compenetrada em si mesma. E
nós?
Sim, porque os assuntos, já disse, são maravilhosos, cativantes, as
pessoas são inteligentíssimas. Temas do arco-da-velha. Mas toda tese
fica no rodapé da história. Pra que tanto sic e tanto apud? Sic me
lembra o Pasquim e apud não parece candidato do PFL para vereador?
Apud Neto.
Escrever uma tese é quase um voto de pobreza que a pessoa se
autodecreta. O mundo pára, o dinheiro entra apertado, os filhossão
abandonados, o marido que se vire. Estou acabando a tese. Essa frase
significa que a pessoa vai sair do mundo. Não por alguns dias, mas
anos. Tem gente que nunca mais volta.
E, depois de terminada a tese, tem a revisão da tese, depois tem a
defesa da tese. E, depois da defesa, tem a publicação. E, é claro,
intelectual que se preze, logo em seguida embarca noutra tese. São os
profissionais, em tese. O pior é quando convidam a gente para assistir
à defesa. Meu Deus, que sono. Não em tese, na prática mesmo.
Orientados e orientandos (que nomes atuais!) são unânimes em afirmar
que toda tese tem de ser - tem de ser! - daquele jeito. É pra não
entender, mesmo. Tem de ser formatada assim. Que na Sorbonne é assim,
que em Coimbra também. Na Sorbonne, desde 1257. Em Coimbra, mais
moderna, desde 1290.
Em tese (e na prática) são 700 anos de muita tese e pouca prática.
Acho que, nas teses, tinha de ter uma norma em que, além da tese, o
elemento teria de fazer também uma tesão(tese grande). Ou seja, uma
versão para nós, pobres teóricos ignorantes que não votamos no Apud
Neto.
Ou seja, o elemento (ou a elementa) passa a vida a estudar um assunto
que nos interessa e nada. Pra quê? Pra virar mestre, doutor? E daí? Se
ele estudou tanto aquilo, acho impossível que ele não queira que a
gente saiba a que conclusões chegou. Mas jamais saberemos onde fica o
bicho da goiaba quando não é tempo de goiaba. No bolso do Apud Neto?
Tem gente que vai para os Estados Unidos, para a Europa, para terminar
a tese. Vão lá nas fontes. Descobrem maravilhas. E a gente não fica
sabendo de nada. Só aquelessisudos da banca. E o cara dá logo um dez
com louvor. Louvor para quem? Que exaltação, que encômio é isso?
E tem mais: as bolsas para os que defendem as teses são uma pobreza.
Tem viagens, compra de livros caros, horas na Internet da vida,
separações, pensão para os filhos que a mulher levou embora. É,
defender uma tese é mesmo um voto de pobreza, já diria São Francisco
de Assis. Em tese.
Cara, voltei aqui no blog, fazia tempo que não o visitava, ficou legal o novo fundo de cerveja. Vim aqui pois tem um amigo da FJP que já faz um tempo está vidrado na HD-black line (é a proteção de tela dele). Falei do seu blog pra ele e ele achou muito legal. Então papo vai papo vem, e passeando por aqui no seu blog achei esse texto do Mario Prata (é dele mesmo?!) que é excepcional.
ResponderExcluirValeu seu Jurza, e cuidado com o Tesão.