Uma das maiores sacadas de Freud, que eu gostava muito de estudar e discutir na Faculdade de Psicologia, era a topografia freudiana do Consciente e Inconsciente, um conceito fundamental na Psicanálise, também conhecida como Primeira Tópica ou Teoria Topográfica.
Freud dividiu o aparelho psíquico em três "lugares" virtuais, que se referem a sistemas com características e modos de funcionamento diferentes:
O Inconsciente, onde rola a parte mais vasta e profunda da psique e contém conteúdos reprimidos ou recalcados, como desejos, medos, traumas e impulsos que são incompatíveis com as normas sociais e morais, e que foram excluídos da consciência - é onde mora o perigo das nossas mentes...
Ele é inacessível diretamente à Consciência. O material inconsciente só se manifesta de forma disfarçada (distorcida, deformada) em fenômenos como sonhos, atos falhos (tipo lapsos de linguagem ou esquecimentos), sintomas neuróticos, chistes (piadas), operando pelo processo primário, ilógico, regido pelo Princípio do Prazer, que busca sempre a satisfação imediata dos desejos, sem filtrar a possibilidade real de realização.
Os sonhos são conteúdos que se manifestam se libertando da prisão do Inconsciente, que realiza seus desejos através das imagens oníricas, a fim de descarregar um pouco a tensão acumulada. Por isso a privação do sono é tão prejudicial à manutenção da saúde mental do indivíduo.
Desses fenômenos vou falar em outro post, porque adoro o texto "os Chistes e outras Parapraxias" de Freud. São fenômenos muito pitorescos de se presenciar.
O Pré-Consciente, é o segundo "lugar", e contém pensamentos, memórias, conhecimentos e sentimentos que não estão na consciência no momento, mas que podem ser facilmente acessados com um pequeno esforço da atenção ou da memória - é o "filtro" entre o Inconsciente e o Consciente. Serve como uma área de passagem e censura. Seus conteúdos são acessíveis, mas censurados pelo que ele acha que pode ou não aparecer na parte Consciente, um pouco mais lógico e organizado temporalmente, mas não é a realidade imediata.
E finalmente, o Consciente, a parte mais superficial do aparelho psíquico. Inclui tudo o que o indivíduo tem conhecimento imediato, ou seja, suas percepções, pensamentos, sentimentos e lembranças do momento atual - a parte que aparece, está em contato direto com o mundo exterior e com as informações internas (sensações, pensamentos atuais), operando pelo Processo Secundário, que é lógico, racional, temporal e regido pelo Princípio da Realidade (avalia as condições do mundo real antes de permitir a satisfação das pulsões dentro de uma possibilidade factível e mais moralmente aceita).
Essa topografia da Primeira Tópica pode ser comparada à um Iceberg, sendo que a ponta visível e pequena é a parte Consciente, o que vemos de imediato. Submersos na água, logo abaixo está o pré-Consciente (mais raso e que pode boiar à tona facilmente) e no fundo, imerso na escuridão, bem maior e mais denso, está a parte invisível representando o Inconsciente (a maior parte da mente, onde residem os conteúdos recalcados que, apesar de ocultos, são a força motriz que influencia decisivamente a personalidade e o comportamento - tipo a Deep Web da mente...).
Essa Primeira Tópica que Freud formulou baseado em seus estudos forma a base para se entender a Segunda Tópica, onde Freud define o Id, o Ego e o SuperEgo, modelo mais refinado, que tratarei em outro post.
Eu acho que Freud foi um cara visionário, e que merece muita atenção por seus estudos que revolucionaram a psicanálise.
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