O rei da França, Filipe IV, o Belo, na época do século XIV, estava
falido e, entre outros, devia muito dinheiro a Ordem dos Templários,
que era uma das Organizações mais ricas e mais poderosas da Europa.
Seus membros eram guerreiros, banqueiros e construtores e tinham sede
em Paris. Pelo fato de serem guerreiros, e bem organizados, se
apoderaram de imensas quantidades de terras e bens materiais dos
perdedores aos quais punham o seu jugo. Controlavam feudos e
construções em Paris e no interior da França.
Participaram de modo intenso nas Cruzadas. As mesmas eram
"patrocinadas" pela Igreja Católica a qual permitia, devido sua
portentosa influência juntos aos reis e governantes, que os Templários
tivessem muitas regalias e direitos. Entretanto, exigiam que as
Cruzadas saíssem vitoriosas em suas contendas. As derrotas das
Cruzadas no Médio Oriente, alimentaram uma onda de calúnias, produzida
provavelmente por pessoas ou entidades invejosas e sedentas do
fracasso dos Cavaleiros da Ordem dos Templários, dizendo que os mesmos
teriam se "vendido" aos muçulmanos. Aproveitando o clima favorável,
talvez produzido por ele mesmo, em 13 de outubro de 1307, Filipe
invadiu, de surpresa, as sedes dos Templários em toda a França,
prendendo todos os membros.
Dois processos foram abertos contra a Ordem dos Templários: um
dirigido pelo rei contra os presos, o outro conduzido pelo papa
Clemente V, que como sabemos, foi forçado pelo rei Felipe, a colocar a
sede do Papado em Avignon, França.
Muitos Cavaleiros foram mortos. A maioria degolada. A Ordem era
Iniciática e bastante discreta. A própria discrição da Ordem foi usada
contra ela, fazendo-se afirmações absurdas. Devido a ramificada rede
de informações da Ordem, os sobreviventes trataram de salvar a maior
quantidade possível de bens e tesouros.
Todos os seus bens "disponíveis" foram confiscados. Esperava-se uma
fortuna, mas, como pouco foi efetivamente recolhido, criou-se a
suposição de que os tesouros foram transferidos em segurança para
outros países. Para muitos investigadores, um desses países teria sido
Portugal. O rei Dom Dinis (1261-1325) decidiu garantir a permanência
da Ordem dos Templários em terras portuguesas. Sugeriu uma doação
formal dos bens da Ordem à Coroa, mas, talvez, por imposição dos
Templários, foi nomeado um administrador, de confiança da Ordem, para
cuidar deles.
Dom Dinis, numa atitude corajosa para a época, local e condições,
abriu as portas para todos os refugiados da Europa. Nessa ocasião, por
volta de 1317, o último Grão Mestre da Ordem dos Cavaleiros
Templários, Jacques (ou Thiago) de Molay, já havia sido executado na
fogueira (1314). Nem o Papa, com toda sua autoridade e com a "Santa
Inquisição" a sua disposição, o intimidou: fundou a Ordem de Cristo
com, segundo afirmam os historiadores, parte do patrimônio dos
Templários.
Todos os perseguidos da Europa, se concentravam, trazendo seus
segredos, seus conhecimentos, para o Convento de Tomar, sede da Ordem
de Cristo. Uma nova etapa, uma nova era, estava acontecendo para os
Cavaleiros Templários. Dois anos depois, em 1319, um novo papa, João
XXII, reconheceu a Ordem de Cristo.
No início do século XV, Portugal era um reino pobre. A riqueza estava
na Itália, na Alemanha e na Flandres (hoje parte da Bélgica e
Holanda). Nesse caso, porque é que foram os portugueses a encabeçar a
expansão européia? Sem dúvida, a rica Ordem de Cristo foi o seu trunfo
decisivo, com seus tesouros, mas, principalmente, com os seus
conhecimentos e experiência adquiridos ao longo dos anos. .
Quando o Infante Dom Henrique, terceiro filho de Dom João I, se tornou
Grão-Mestre da Ordem, em 1416, a Organização encontrou apoio para
colocar em prática um antigo e ousado projeto: contornar a África e
chegar à Índia, ligando o Ocidente ao Oriente sem a intermediação dos
muçulmanos, que então controlavam os caminhos por terra. Dom Henrique
assumiu o cargo de governador do Algarve. Dividia seu tempo entre a
Ordem de Cristo e o Porto (ou Vila) de Lagos.
Ao retornar à Portugal, na primavera de 1419, após combater os mouros
na cidade de Ceuta, dom Henrique teria decidido abandonar as
"futilidades da corte" e se instalar na ponta de Sagres. Dom Henrique
era uma figura imponente, obcecado, teimoso, celibatário e asceta,
permanentemente envolto em um manto negro.
O próprio local que o infante supostamente escolheu para viver já era
pleno de simbolismo e magia. O antigo "promontório sacro" de gregos e
romanos – chamado de Sagres pelos lusos - fora batizado pelo geógrafo
grego Ptolomeu. Era a parte final da Europa: um lugar desértico, de
beleza trágica, onde a terra se despede num cabo nu e pedregoso, para
mergulhar no oceano temível e repleto de mistérios. Não por acaso,
Sagres tinha sido ocupado por um templo de druidas, os sacerdotes
celtas.
Ainda assim, não foi na ponta de Sagres, mas na Vila de Lagos, acerca
de 30 km a leste dali, que Dom Henrique de fato se instalou, quando
seu pai, o rei Dom João I, o fez governador daquela região, conhecida
como Algarve, ou El-Ghard, a Terra do Poente, outrora o Ocidente
árabe.
Foi aí, que em 1420, Dom João I, fez do Infante o administrador da
Ordem dos Cavaleiros de Cristo, originária da antiga Ordem dos
Templários ..
Algarve era a base naval e uma corte aberta: vinham viajantes de todo
o Mundo, com todo tipo de informações, tão importantes naquela época.
Foram atraídos para lá, sábios, cartógrafos, astrônomos e astrólogos –
especialmente Judeus que, desde meados do século XIV, fugiam das
perseguições que se desencadeavam na Espanha. Afirma-se hoje que, o
Porto (ou Vila) de Lagos, localizada em uma ampla baía, possível de se
zarpar, liderada pelo infante, foi que comandou a expansão marítima do
século XV. Ali foi fundada a Escola de Sagres – que, na verdade,
existiu apenas no sentido filosófico da palavra, já que nunca houve um
espaço físico, um centro de estudos, e muito menos um observatório, na
Ponta de Sagres.
Tinham passado cem anos sobre a condenação dos Templários nos
processos de Paris, e o Vaticano estava preocupado com a pressão
muçulmana sobre a Europa, que aumentara muito no século XIV. Com isso,
em 1418, o Infante consegue o aval do papa ao projeto expansionista.
Num século, os papas emitiram onze bulas privilegiando a Ordem com
monopólios da navegação para a África, posses de terras, isenção de
impostos eclesiásticos e autonomia para organizar a ação da Igreja nos
locais a descobrir.
por M.'.I.'. Alfério Di Giaimo Neto
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