Cada vez mais profundamente introduzido num mundo totalmente mágico,
cada vez mais sentindo-se integrado com o Todo, sentiu um tremendo
baque e desmaiou - havia colidido com algo, mas não teve tempo de
saber com o quê.
Torvelinhos rodopiavam em sua frente, visões estranhas o assolavam:
ampulhetas, ossos, uma alfange que quase decepou-lhe uma mão, um
pedaço de pão, sal, enxofre, um crânio que lhe sorriu, tudo isso
envolto numa escuridão abismal - até um galo fitou-lhe nos olhos !
Estas visões fizeram-lhe sentir impotente diante do inexorável,
fizeram-lhe não mais temer o inevitável, pois aquilo era a única coisa
certa em sua vida.
Lentamente sentiu-se retornando ao mundo ordinário em que vivia, até
que fitou uma luz que pairava suspensa em frente a sua vista,
embaciando a imagem daquele que a segurava.
Era um ermitão, que com sua lâmpada caminhava como o Louco, mas sem
olhar para trás, sem olhar por cima do ombro, nunca lamentando-se do
passado.
Era ele a imagem de que algo havia acabado, algum ciclo havia se
confirmado na vida do Louco, mas era uma coisa que ele continuava a
não entender.
Ofereceu o Ermitão um pouco de sua luz, e o Louco tentou aceitá-la,
mas não teve forças para absorvê-las, não entendendo o que dizia
aquele velho, que murmurava frases de escuridão e luz, ficava cada vez
mais e mais desapontado consigo mesmo.
Então o velho lhe ensinou algo - era estranho, seus lábios não se
moveram, mas as palavras soavam reais nos ouvidos do Louco: "A
escuridão deve ser eliminada, buscando a luz interior - eu já a
encontrei, e carrego esta para tentar iluminar o caminho dos
ímpios"...
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