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sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Conto: Rotas (14 - A Temperança)

A Temperança

Seus pensamentos se resumiam a tentar resolver o mistério daquela
caminhada, mas começou a sentir que aquele mistério nunca
resolver-se-ia.

Um pensamento passou por sua mente: nunca tente levar a vida a sério,
nem tente racionalizá-la completamente.

Era isso que ele sempre fazia, antes de empreender esta jornada
sempiterna que aparentemente nunca levaria à nada.

Retomou o seu rumo por entre densas folhagens duma floresta e
caminhando resolutamente, começou a sentir ódio e rancor por todos
aqueles que encontrara em sua jornada.

Era um ódio profundo, doía-lhe o coração, as narinas dilatavam-se,
tornando o caminho cada vez mais enfadonho - até os pássaros e
pequenos animais da mata irritavam-no.

Um pequeno animal cruzou o seu caminho e tomado pelo ódio intestinal,
começou a perseguí-lo, como se descontasse todo o ódio que sentia
naquele coitado.

Corria por entre as ramagens e árvores, em meio a uma bruma fresca de
neblina da manhã, sua roupa estava úmida do orvalho da floresta, seu
bornal era um incômodo naquela corrida.

Pensou em usar o cajado do bornal para atacar aquele animalzinho
indefeso, e eis que surge detrás de uma árvore uma bela donzela, com
os olhos mais lânguidos que já vira, e olhando-o fixamente, pediu-lhe
calma e temperança, paciência com o mundo, seus habitantes e seus
atos.

Aquilo pareceu desarmá-lo completamente, seu coração voltou ao
compasso normal, suas narinas cessaram o movimento arfante, e ele se
acalmou.

Já bastava - foi embora, taciturno...

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